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quinta-feira, agosto 11, 2005

Ir ou não ir ao cinema 

O filme Madagáscar foi o mais visto em Portugal este ano com um total de 570.708 espectadores. Ver aqui a crítica e a entrevista aos Gato Fedorento. A Guerra dos Mundos foi o segundo filme mais visto - ver aqui artigo.


Um terço dos portugueses nunca vai ao cinema
Primeiro estudo de opinião sobre o Impacto Público da Classificação Etária e Hábitos de Consumo de Filmes


Uma fatia significativa (33,7 por cento) dos portugueses nunca vai ao cinema e uma fatia ainda mais significativa dos portugueses nunca aluga (53,1 por cento) nem compra (63,6 por cento) filmes para ver em casa. Os dados, que o presidente do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM), Elísio de Oliveira, considera "preocupantes", resultam do primeiro estudo de opinião sobre o Impacto Público da Classificação Etária e Hábitos de Consumo de Filmes encomendado pela Comissão da Classificação de Espectáculos (CCE) e pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) à empresa Euroexpansão, em 2004, e agora divulgado.

Embora o principal objectivo da sondagem, que abrangeu 629 inquiridos, fosse conhecer a opinião do público relativamente à utilidade do trabalho de classificação etária desenvolvido pela CCE, os indicadores de consumo acabam por constituir o capítulo mais relevante do estudo de opinião. Ir ao cinema uma a duas vezes por mês é uma prática corrente entre os jovens dos 14 aos 17 anos (45,6 por cento), mas torna-se um comportamento minoritário a partir dos 30 (14,1) para passar a ser completamente residual nas faixas etárias compreendidas entre os 50 e os 59 anos (4,5) e junto dos inquiridos com 60 ou mais anos (2,5). A maioria do público em geral (39,5 por cento) com 18 ou mais anos afirma, de resto, que nunca vai ao cinema; a partir dos 50 anos, essa percentagem sobe até aos 60 por cento, demonstrando que o hábito de visionar filmes se perde "à medida que a população vai envelhecendo".

À luz do estudo da CCE, não se pode sequer atribuir a desertificação das salas de cinema à explosão do mercado do DVD: a esmagadora maioria dos inquiridos afirma não alugar nem comprar filmes para ver em casa. "As pessoas que compram DVD são as mesmas que vão ao cinema - só que passam a ir menos vezes ao cinema", reconhece Elísio de Oliveira. "As pessoas de 50 anos perderam o enormíssimo hábito de ir ao cinema que tinham nos anos 60 e 70", acrescenta, notando que é urgente montar "uma estratégia concertada de promoção da ida ao cinema". E de desabituação da televisão, acrescenta o realizador António-Pedro Vasconcelos: "Os portugueses passam em média 3h20 por ano no cinema. As mesmas 3h20 que passam em média, mas por dia, a ver televisão. É absolutamente aterrador".

O estudo agora divulgado mostra ainda uma clara preferência do público por géneros como a comédia (44,5 por cento), a acção (39,3) e o romance (22,1). O factor mais determinante na escolha de um filme parece ser, por isso, o argumento/tema do filme (53,6), seguido de muito perto pelo elenco (52,9). O nome do realizador (15,4), as recomendações dos amigos (12,1) e a comunicação social (9,4) desempenham um papel secundário nessa decisão.

Menos escalões
No que diz respeito à questão específica da classificação dos filmes - um requisito a que a legislação portuguesa obriga -, os dados são mais animadores, pelo menos para a CCE: 80,9 por cento dos inquiridos consideram a classificação etária "importante" devido à sua utilidade para proteger as crianças e para permitir a adequação dos filmes às diferentes idades. Entre os 85 inquiridos que não consideram essa classificação importante, 35,3 por cento argumentaram que "ela não limita na prática o acesso aos filmes" (41, por cento dos jovens inquiridos afirmaram, de resto, que já tentaram visionar no cinema, ou alugar num clube de vídeo, filmes com uma classificação etária superior à da sua idade e 88,4 por cento desses jovens afirma que nunca lhe foi negada qualquer tentativa nesse sentido). 12,9 por cento dos adversários da classificação consideram que "há filmes mal classificados".

Por essas ou por outras razões, 39,6 por cento dos inquiridos afirmam que nunca prestam atenção à classificação etária quando visionam um filme - uma prática que se torna maioritária no subgrupo dos encarregados de educação (45 por cento têm em conta a classificação etária sempre que vêem um filme, mesmo que sem os filhos) e que 73 por cento dos inquiridos passam a adoptar quando vêem filmes acompanhados de menores. Os inquiridos que tomam atenção à classificação consideram em regra que a classificação etária atribuída é adequada (73,9).

Resultados que, em traços gerais, confirmam as expectativas da comissão, disse ao PÚBLICO o presidente da CCE, António Xavier. "O estudo mostra que não há muitas reservas em relação ao nosso trabalho. Era o que pensávamos, mas só por instinto, porque não tínhamos qualquer instrumento sério de avaliação do feedback. A não ser por parte das distribuidoras, que se ressentem sempre que um filme é classificado num escalão etário mais alto, até porque o mercado está completamente virado para o público adolescente", explica.

Quando recorrem das decisões da CCE - em média, há 15 recursos por ano -, as distribuidoras fazem-no quase sempre para "baixar a classificação de maiores de 16 para maiores de 12", mas também acontece o contrário: "Há filmes claramente para adolescentes que a CCE classifica para maiores de seis. Isso cria-nos problemas de imagem do filme. Os miúdos raciocinam assim "Vou ver um filme para o meu irmão mais novo quando eu quero é parecer-me com o meu irmão mais velho?"", exemplifica Nuno Gonçalves, director geral da Lusomundo Audiovisuais, frisando que o impacto da classificação etária sobre o negócio é significativo. "Os espectadores individuais não lhe dão grande importância quando decidem que filme vão ver, mas na ida em família a classificação etária é muito importante: as pessoas não arriscam a ir ver um filme para maiores de 12 com miúdos. E quando a CCE classifica um filme para maiores de 16, há uma fatia substancial de público que perdemos", nota.

Tal como uma minoria dos inquiridos, Nuno Gonçalves considera que deveriam existir menos escalões etários e sugere, por exemplo, a extinção dos rótulos "maiores de quatro" e "maiores de 18". "O que é que um miúdo de 18 anos vê hoje que um miúdo de 16 não possa ver?"
in Público, por Inês Nadais

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