segunda-feira, julho 06, 2009
a night at the old vic...
Não é todos os dias que temos oportunidade de conhecer um dos actores predilectos da adolescência: Ethan Hawke. Falhou a entrevista pretendida e com que cheguei a sonhar durante algum tempo, mas foi concretizado o desejo de o conhecer (guardado para a posteriori nesta foto).
Londres, Waterloo. 18h45.
Depois de andar uns minutos à procura da rua certa, de passar por pubs apinhados de gente dentro e fora do estabelecimento e de perguntar a vários ingleses por indicações, ei-lo. The Old Vic. Um dos teatros mais antigos e importantes de Londres, coordenado pelo actor norte-americano Kevin Spacey.
O teatro é relativamente imponente e tem o seu próprio quarteirão (sem prédios colados). Bilhete e programa na mão e com uns minutos para gastar, passei pelo Stage Door (a porta lateral dos bastidores), bati à porta, entrei e disse ao que ia: queria tentar falar com o actor Ethan Hawke para tentar uma entrevista (não conseguida pelos meios regulares).
Com grande compreensão, simpatia e honestidade explicaram-me que ele devia estar a chegar e que podia esperar por e perguntar-lhe.
No período de espera aparece um jovem húngaro (o único por ali) que mete conversa comigo (não, não me parecia gay) a perguntar: "estás à espera do Ethan Hawke?"
Estava, claro. Pelos vistos já tinha visto a peça no sábado (The Winter's Tale) e tirado foto com ele, mas tinha ficado tremida e como trabalhava mesmo ali e o Ethan Hawke revelou-se simpático tinha passado para novo foto, à luz do dia.
O jovem contabilista húngaro, a viver há quatro anos em Londres, revelou-se um grande apreciador de peças de teatro e aconselhou-me não perder as interpretações teatrais incríveis de Kevin Spacey (que só volta a actuar no final do ano) e de Jude Law.
As dicas sobre a cidade deste húngaro londrino: nunca vir trabalhar para Londres a ganhar menos de 25 mil libras por ano (a vida é muito cara e a cidade é cheia de vida e coisas boas, mas correspondem no preço). Após quatro anos como "londrino", disse estar cansado da vida frenética e cara da cidade e pensa mesmo em sair ("na Hungria dava para ver 5 peças de teatro nos melhores lugares por um bilhete num bom lugar aqui (45 libras)".
O tempo passava e Ethan não chegava (ele só entrava na segunda parte da peça The Winter's Tale). Perto das 19h20 sai dali e fui para a sala, que se revelou mais pequena e velha do que pensava, mas ainda assim imponente, clássica e agradável.
"No photos", recorda-me uma assistente. Só tirei uma da sala... foi pena (não vi nenhum sinal para não tirar fotografias).
A peça, encenada pelo inimitável Sam Mendes (Beleza Americana), começa pouco depois da hora combinada.
O início deixa-me algo apreensivo. O inglês é arcaico (é uma peça de William Shakespeare), as palavras iradas e ditas de forma muito rápida. É difícil acompanhar. Assim que começo a perceber a história e o que move as personagens, tudo se torna aliciante e envolvente, mas foi difícil entrar naquele mundo de reis gentlemans desesperados nas belas terras de Sicilia e Bohemia.
A mistura entre actores ingleses e norte-americanos (todos altamente reputados em teatro e muitos também em cinema) revelou-se engraçada - os estilos são, de facto, diferentes. A 1ª parte da peça, mas dramalhão e pesada, é mais inglesa, a 2ª parte é claramente mais norte-americana.
Pode parece óbvio, mas o actores mais conhecidos (do cinema) são de facto os que se revelaram mais talentosos. Fiquei maravilhado com três actuações: Ethan Hawke, Sinead Cusack (uma inglesa ao nível de Helen Mirren ou mesmo Judy Dench) e Rebecca Hall. Mas o talento abundava, e de que maneira, com os risos a estarem muito nas mãos de Ethan Hawke, que se revelou um espanto para a comédia shakesperiana (incrível), o experiente Richard Easton (já fazia filmes como Othello em 1953) e o jovem trapalhão Tobias Segel.
Ainda assim houve três enganos nos diálogos que suscitaram sorrisos no palco e risos na plateia (faz parte, é teatro!).
Ethan Hawke era um ladrão matreiro, esperto, profeta da desgraça e da graça, gozão e cantador de baladas (de viola em punho). Para além de não esperar que tivesse tanta piada, foi incrível a forma como fazia as cenas e fazia reparos directamente para o público, conseguiu dominar essa técnica com uma harmonia e graça contagiante, com estilo e personalidade muito própria.
Não espera tanto dele, confesso... ainda para mais de um tipo que ainda há umas horas atrás (14h30) tinha protagonizado outra peça de teatro, que faz parte deste projecto: The Cherry Orchard, de Chehkov - com o mesmo elenco.
Outra parte incrível foi a forma como cantou. Tem uma voz cativante, harmoniosa, ligeiramente roca (ao estilo rock)... notável. Diálogos e cantorias, tudo ao vivo e sem microfones (à antiga), a fazerem-se valer da boa acústica e da projecção das suas vozes. Tive sorte em ficar na terceira fila da frente... pertíssimo do palco... é uma sensação incrível. Uma experiência que recomendo.
No total a peça teve pouco mais de 2h30 (mais 15 min. de intervalo) e convenceu-me por completo. Confesso que 45 libras (há preços desde as 10 libras em lugares mauzinhos) é um preço justo para tanta emoção, drama, dança, cantoria e comédia junta.
Peça vista, fôlego recuperado. Passo outra vez pela pequena Stage Door (muita gente passa ali a pensar tratar-se do pub que fica mais à frente na rua e tem o mesmo nome, The Stage Door). Mas agora estão, à porta, umas 10 pessoas.
Começam logo a sair alguns actores e percebo que quem está ali à espera são amigos dos actores. A talentosa, promissora e lindíssima Rebecca Hall (Match Point, Vicky Cristina Barcelona, lembram-se dela?) sai, lança sorrisos e está mesmo ao meu lado a combinar qual o bar para onde vai com as amigas que a esperavam.
Ali os actores não são estrelas, são profissionais que saem do trabalho e vão ter com os amigos. Simples. Um dos actores americanos partilha com uns amigos compatriotas a experiência da peça e pergunta sobre o que eles andam a fazer. Outro actor, inglês, aproveita para voltar a apresentar o irmão aos outros actores.
Entretanto lá sai Ethan Hawke (sem ninguém conhecido à espera dele), curiosamente quando já todos os outros actores e respectivos amigos tinham saído dali.
Cumprimento-o e explico ao que venho: "não consegui entrevista pelo teatro, será que podias responder a umas perguntas..." Entretanto duas raparigas pedem-lhe uma foto. Ele, visivelmente cansado (peças todos os dias, hoje, duas vezes num dia), pede-me para esperar um pouco e aceita, "vamos lá num instante, é só sorrir não é?".
Depois lá me pergunta novamente: "então o que querias mesmo?" Lá lhe explico que era fazer umas perguntas de teatro, cinema... ele explica-me que está muito cansado mentalmente e com alguma pressa. "Sorry, interview maybe tomorrow, if you can... today i'm too tired"- pena eu não poder.
Sem entrevista, faço-lhe o pedido final, uma fotografia ao lado de um dos "lads" do Clube dos Poetas Mortos e do filme Exploradores. E ele diz, "Claro!"
Tiro a máquina da mala e ele chama as raparigas com quem tinha tirado uma foto antes, que já estavam a sair, e pede a uma delas para ser fotógrafa de serviço.
Fotografia tirada, ele ainda me diz que caso tenha alguma curiosidade pessoal para satisfazer sobre a carreira dele para o acompanhar um instante enquanto saimos do quarteirão e...
lá vou eu numa rua londrina ao lado do Ethan Hawke, esse mesmo que passeou pelas ruas de Viena e de Paris ao lado da bela Julie Delpy. Pergunto-lhe se há planos para fazer mais um filme da saga Before Sunrise/Sunset com Julie Delpy e o realizador Richard Linklater:
"Sem dúvida, queremos fazer o terceiro. Agora, é como os outros filmes, não sabemos quando nem onde... mas no futuro vamos voltar a juntarmo-nos, isso é certo".
Outra dúvida instantânea foi sobre as performances como cantor na peça. Foi mesmo impecável e cativante... lembrei-o da canção gravada no filme Reality Bites, em que a voz parecia demasiado rouca. E ele explica "nesse filme gravei isso com a voz completamente estoirada... foi giro mas pouco profissional, quase não tinha voz quando gravei". Já sobre a eventualidade de se aventurar na música com um álbum... "nunca pensei muito nisso, não é algo que procure. Ainda assim não excluo totalmente".
Terminado o mini-quarteirão do Old Vic, ele foi into the wilderness (disse que estava desesperado por chegar à cama), voltou a pedir desculpa por não dar a entrevista, cumprimentou-me e eu foi para o metro (tube) de Waterloo com uma história para contar e uma fotografia para recordar.
Amanhã, estar com a Sandra Bullock e Ryan Reynolds não se vai comparar em nada à experiência inesquecível de uma noite no Old Vic.
Vai sair em breve um filme curioso com Ethan Hawke, chamado Daybreakers, sobre um mundo povoado por vampiros onde o ser humano está em vias de extinção. Pelo trailer fiquei curioso.
Londres, Waterloo. 18h45.
Depois de andar uns minutos à procura da rua certa, de passar por pubs apinhados de gente dentro e fora do estabelecimento e de perguntar a vários ingleses por indicações, ei-lo. The Old Vic. Um dos teatros mais antigos e importantes de Londres, coordenado pelo actor norte-americano Kevin Spacey.
O teatro é relativamente imponente e tem o seu próprio quarteirão (sem prédios colados). Bilhete e programa na mão e com uns minutos para gastar, passei pelo Stage Door (a porta lateral dos bastidores), bati à porta, entrei e disse ao que ia: queria tentar falar com o actor Ethan Hawke para tentar uma entrevista (não conseguida pelos meios regulares).
Com grande compreensão, simpatia e honestidade explicaram-me que ele devia estar a chegar e que podia esperar por e perguntar-lhe.
No período de espera aparece um jovem húngaro (o único por ali) que mete conversa comigo (não, não me parecia gay) a perguntar: "estás à espera do Ethan Hawke?"
Estava, claro. Pelos vistos já tinha visto a peça no sábado (The Winter's Tale) e tirado foto com ele, mas tinha ficado tremida e como trabalhava mesmo ali e o Ethan Hawke revelou-se simpático tinha passado para novo foto, à luz do dia.
O jovem contabilista húngaro, a viver há quatro anos em Londres, revelou-se um grande apreciador de peças de teatro e aconselhou-me não perder as interpretações teatrais incríveis de Kevin Spacey (que só volta a actuar no final do ano) e de Jude Law.
As dicas sobre a cidade deste húngaro londrino: nunca vir trabalhar para Londres a ganhar menos de 25 mil libras por ano (a vida é muito cara e a cidade é cheia de vida e coisas boas, mas correspondem no preço). Após quatro anos como "londrino", disse estar cansado da vida frenética e cara da cidade e pensa mesmo em sair ("na Hungria dava para ver 5 peças de teatro nos melhores lugares por um bilhete num bom lugar aqui (45 libras)".
O tempo passava e Ethan não chegava (ele só entrava na segunda parte da peça The Winter's Tale). Perto das 19h20 sai dali e fui para a sala, que se revelou mais pequena e velha do que pensava, mas ainda assim imponente, clássica e agradável.
"No photos", recorda-me uma assistente. Só tirei uma da sala... foi pena (não vi nenhum sinal para não tirar fotografias).
A peça, encenada pelo inimitável Sam Mendes (Beleza Americana), começa pouco depois da hora combinada.
O início deixa-me algo apreensivo. O inglês é arcaico (é uma peça de William Shakespeare), as palavras iradas e ditas de forma muito rápida. É difícil acompanhar. Assim que começo a perceber a história e o que move as personagens, tudo se torna aliciante e envolvente, mas foi difícil entrar naquele mundo de reis gentlemans desesperados nas belas terras de Sicilia e Bohemia.
A mistura entre actores ingleses e norte-americanos (todos altamente reputados em teatro e muitos também em cinema) revelou-se engraçada - os estilos são, de facto, diferentes. A 1ª parte da peça, mas dramalhão e pesada, é mais inglesa, a 2ª parte é claramente mais norte-americana.
Pode parece óbvio, mas o actores mais conhecidos (do cinema) são de facto os que se revelaram mais talentosos. Fiquei maravilhado com três actuações: Ethan Hawke, Sinead Cusack (uma inglesa ao nível de Helen Mirren ou mesmo Judy Dench) e Rebecca Hall. Mas o talento abundava, e de que maneira, com os risos a estarem muito nas mãos de Ethan Hawke, que se revelou um espanto para a comédia shakesperiana (incrível), o experiente Richard Easton (já fazia filmes como Othello em 1953) e o jovem trapalhão Tobias Segel.
Ainda assim houve três enganos nos diálogos que suscitaram sorrisos no palco e risos na plateia (faz parte, é teatro!).
Ethan Hawke era um ladrão matreiro, esperto, profeta da desgraça e da graça, gozão e cantador de baladas (de viola em punho). Para além de não esperar que tivesse tanta piada, foi incrível a forma como fazia as cenas e fazia reparos directamente para o público, conseguiu dominar essa técnica com uma harmonia e graça contagiante, com estilo e personalidade muito própria.
Não espera tanto dele, confesso... ainda para mais de um tipo que ainda há umas horas atrás (14h30) tinha protagonizado outra peça de teatro, que faz parte deste projecto: The Cherry Orchard, de Chehkov - com o mesmo elenco.
Outra parte incrível foi a forma como cantou. Tem uma voz cativante, harmoniosa, ligeiramente roca (ao estilo rock)... notável. Diálogos e cantorias, tudo ao vivo e sem microfones (à antiga), a fazerem-se valer da boa acústica e da projecção das suas vozes. Tive sorte em ficar na terceira fila da frente... pertíssimo do palco... é uma sensação incrível. Uma experiência que recomendo.
No total a peça teve pouco mais de 2h30 (mais 15 min. de intervalo) e convenceu-me por completo. Confesso que 45 libras (há preços desde as 10 libras em lugares mauzinhos) é um preço justo para tanta emoção, drama, dança, cantoria e comédia junta.
Peça vista, fôlego recuperado. Passo outra vez pela pequena Stage Door (muita gente passa ali a pensar tratar-se do pub que fica mais à frente na rua e tem o mesmo nome, The Stage Door). Mas agora estão, à porta, umas 10 pessoas.
Começam logo a sair alguns actores e percebo que quem está ali à espera são amigos dos actores. A talentosa, promissora e lindíssima Rebecca Hall (Match Point, Vicky Cristina Barcelona, lembram-se dela?) sai, lança sorrisos e está mesmo ao meu lado a combinar qual o bar para onde vai com as amigas que a esperavam.
Ali os actores não são estrelas, são profissionais que saem do trabalho e vão ter com os amigos. Simples. Um dos actores americanos partilha com uns amigos compatriotas a experiência da peça e pergunta sobre o que eles andam a fazer. Outro actor, inglês, aproveita para voltar a apresentar o irmão aos outros actores.
Entretanto lá sai Ethan Hawke (sem ninguém conhecido à espera dele), curiosamente quando já todos os outros actores e respectivos amigos tinham saído dali.
Cumprimento-o e explico ao que venho: "não consegui entrevista pelo teatro, será que podias responder a umas perguntas..." Entretanto duas raparigas pedem-lhe uma foto. Ele, visivelmente cansado (peças todos os dias, hoje, duas vezes num dia), pede-me para esperar um pouco e aceita, "vamos lá num instante, é só sorrir não é?".
Depois lá me pergunta novamente: "então o que querias mesmo?" Lá lhe explico que era fazer umas perguntas de teatro, cinema... ele explica-me que está muito cansado mentalmente e com alguma pressa. "Sorry, interview maybe tomorrow, if you can... today i'm too tired"- pena eu não poder.
Sem entrevista, faço-lhe o pedido final, uma fotografia ao lado de um dos "lads" do Clube dos Poetas Mortos e do filme Exploradores. E ele diz, "Claro!"
Tiro a máquina da mala e ele chama as raparigas com quem tinha tirado uma foto antes, que já estavam a sair, e pede a uma delas para ser fotógrafa de serviço.
Fotografia tirada, ele ainda me diz que caso tenha alguma curiosidade pessoal para satisfazer sobre a carreira dele para o acompanhar um instante enquanto saimos do quarteirão e...
lá vou eu numa rua londrina ao lado do Ethan Hawke, esse mesmo que passeou pelas ruas de Viena e de Paris ao lado da bela Julie Delpy. Pergunto-lhe se há planos para fazer mais um filme da saga Before Sunrise/Sunset com Julie Delpy e o realizador Richard Linklater:
"Sem dúvida, queremos fazer o terceiro. Agora, é como os outros filmes, não sabemos quando nem onde... mas no futuro vamos voltar a juntarmo-nos, isso é certo".
Outra dúvida instantânea foi sobre as performances como cantor na peça. Foi mesmo impecável e cativante... lembrei-o da canção gravada no filme Reality Bites, em que a voz parecia demasiado rouca. E ele explica "nesse filme gravei isso com a voz completamente estoirada... foi giro mas pouco profissional, quase não tinha voz quando gravei". Já sobre a eventualidade de se aventurar na música com um álbum... "nunca pensei muito nisso, não é algo que procure. Ainda assim não excluo totalmente".
Terminado o mini-quarteirão do Old Vic, ele foi into the wilderness (disse que estava desesperado por chegar à cama), voltou a pedir desculpa por não dar a entrevista, cumprimentou-me e eu foi para o metro (tube) de Waterloo com uma história para contar e uma fotografia para recordar.
Amanhã, estar com a Sandra Bullock e Ryan Reynolds não se vai comparar em nada à experiência inesquecível de uma noite no Old Vic.
Vai sair em breve um filme curioso com Ethan Hawke, chamado Daybreakers, sobre um mundo povoado por vampiros onde o ser humano está em vias de extinção. Pelo trailer fiquei curioso.
Comments:
Oi! Seu blog sobre cinema é muito interessante e abrangente,sempre que posso passo por aqui,para me antenar nas novidades do mundo cinematográfico,que você o descreve tão minusiosamente,e que realmente são pormenores necessários!Estou curiosa para ver 'Daybreakers'!E acredite,é um blog que não deixa de conter informações valiosas.
Obrigada
Abraços!
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Obrigada
Abraços!