segunda-feira, outubro 27, 2008
Quem quer ser presidente dos Estados Unidos?
W.
Bush sénior: Who do you think you are... a Kennedy? You're a Bush. Act like one.
Quem é George W. Bush? Depois de quase oito anos de mandato, o filme de Oliver Stone leva-nos de forma menos dura do que noutras ocasiões, pela história peculiar de W. (como o tratam no filme), o filho ex-alcoólico e problemático do senador conservador George Bush.
Pouco inteligente, mas com boa memória, facilmente manipulado e enganado, demasiado impulsivo e fã do álcool e festanças, fanático por basebol (sonha ser jogador) e religioso, bom decorador de textos e brincalhão. Assim se poderia definir a forma como o prestigiado Oliver Stone caracteriza George W. Bush da adolescência à actualidade, no seu novo filme de cariz político W.
Muitos críticos norte-americanos acharam a abordagem de Stone de branda e até favorável e simpática a Bush. O que parece certo é que, de forma subtil q.b., este é um filme sobre uma guerra, a do Iraque (versão do século XXI), e a forma como a ingenuidade constrangedora e falta de perfil de um homem para ser presidente dos EUA permitiram que ela acontecesse. Na verdade, a abordagem de Stone retrata um George W. Bush que até transmite alguma simpatia, não há propriamente a maldade maquiavélica que tantos lhe incutiram, simplesmente não servia para o cargo.
O filme começa na sala Oval, com W. a discutir um plano pós-11 de Setembro orquestrado pelo calculista Dick Cheney (uma interpretação soberba de Richard Dreyfuss) que já incluía o Iraque: pelo petróleo, acima de tudo, “mascarado” com os lemas «liberdade e democracia para salvar os iraquianos».
Segue-se depois um regresso ao passado para contar a forma atabalhoada como W. (como a família o chama) chegou ali, a presidente dos Estados Unidos, e à decisão: a da guerra como Iraque.
De problemático a presidente
Deambulamos entre os problemas de um W. que não consegue manter um emprego por mais simples que seja, que anda sempre bêbado e a ter acidentes onde é salvo pelo pai, até ao mandato como presidente e à forma atabalhoada como decidia o futuro do planeta. Tudo isto nos dá uma perspectiva algo simpática de W. como pessoa, mas péssima como presidente para um país tão poderoso.
O filme resulta quase tanto como drama ou como comédia. A personagem W., interpretada de forma quase perfeita nos tiques, maneirismos, maneira de andar, sotaque e voz por Josh Brolin é uma espécie de Sarah Palin, mas mais velho e menos bonito.
O elenco é de grande nível, o que é uma espada de dois gumes. A maioria dos actores são conhecidos e poderia ser difícil acreditar, assim, nas personagens. George W. Bush (Josh Brolin), Laura Bush (Elizabeth Banks), Bush pai (James Cromwell), Dick Cheney (Richard Dreyfuss), Colin Powell (Jeffrey Wright), Condolezza Rice (Thandie Newton), tornam-se convincentes à medida que o filme avança, não só pela boa caracterização, mas pelas interpretações incisivas e quase perfeitas.
Com uma banda sonora muitas vezes irónica (é inesquecível a parte em que a ideia de W. ir salvar os iraquianos invadindo o país é apimentada com a música de Robin dos Bosques) e um tom quase documental, o filme tem méritos e mensagens, mas fica um pouco aquém do universo mais satírico e crítico que se poderia esperar do melhor de Stone. Ainda assim é uma experiência cinematográfica e histórica bem feita tão curiosa quanto pertinente, com belas interpretações e que, sem dúvida, vale a pena.
Curiosidades
Pappie. É assim que W. chama ao pai Bush sénior incluindo na sala Oval quanto ele já era presidente.
Christian Bale esteve para fazer de W. mas o papel foi para Josh Brolin após a sua actuação em Este País Não é Para Velhos.
Josh Brolin preparou-se para o papel através de muitos vídeos de W. e de telefonemas para hóteis do Texas para captar o sotaque.
Este é o primeiro biópico sobre um presidente norte-americano ainda no activo.
W. tornou-se «um dos piores presidentes dos Estados Unidos», segundo explica o próprio Oliver Stone, que levou o país para uma guerra (a do Iraque) onde foi mais comandado e manipulado do que comandante.