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domingo, agosto 10, 2008

O Acontecimento de Shyamalan 




The Happening

O Acontecimento



M. Night Shyamalan tem-nos oferecido pedaços de bom cinema e temas incrivelmente fortes e apaixonantes diversas vezes. Ultimamente, o realizador de origem indiana tem sido alvo de fortes críticas aos seus filmes, que também já não rendem o que renderam. Acabei de ver The Happening, mais recente filme da colecção de diversidade dentro de temáticas e obsessões semelhantes de Shyamalan.

Adoro que filmes que me colocam a pensar. Que me põem a remoer sobre o filme. Sobre as personagens, sobre o que vi, sobre o que experiencei. É aí que o filme deixa de ser um mero pedaço de imagem em movimento e se transforma num objecto com um significado pessoal em constante mutação. Fascinam-me ainda os filmes que nem dizem tudo, nem explicam tudo. Não precisam. Funcionam dessa forma e têm muito mais força assim. É o caso de The Happening. Uma fita que eu considero de terror, mas um terror que advém do conceito incrível que tem - o filme está catalogado como do género drama/mistério/thriller.

Na verdade, não considero que este filme de Shyamalan esteja ao mesmo nível de outros filmes incrivelmente fortes e coesos, como O Sexto Sentido ou mesmo O Protegido e A Vila (confesso que não morri de amores por Sinais) - gostei de Senhora da Água. Mesmo assim, tem um conceito que assusta, ao ponto de acabar de ver o filme e de imaginar tudo aquilo que ele aborda transportado para a minha realidade. E isso, digo eu, é sempre o grande trunfo de um filme de terror ou mesmo mistério.


Uma catástrofe pode fazer vir ao de cima o que há de melhor nas pessoas e o que há de pior. Um filme que demonstra isso muito bem é o recente Guerra dos Mundos, de Spielberg - a parte de grupos de pessoas andarem perdidos pelos campos em busca de fuga assemelha-se a este filme. Aqui Shyamalan aborda um ACONTECIMENTO. Começa por nos mostrar o Central Park, em Nova Iorque, onde duas colegas estão num banco. E uma delas repara que tudo à volta pára (as pessoas), inclusive a amiga. É nesta altura que a amiga puxa, compenetrada, um dos ferros que utilizava para segurar o cabelo e o espeta no pescoço.

Este é um início intensamente brutal, que se prolonga por todo o filme: as pessoas estão-se a matar, de repente, sem aviso, sem razão. Depressa chegamos ao protagonista, Mark Wahlberg (que tem um belo desempenho), um professor de ciências que vive em Filadélfia. Há uma espécie de vírus ou ataque terrorista (é o que se fala no início do filme) que afecta a costa leste dos Estados Unidos, com uma toxina liberta pelo ar que faz as pessoas ficarem amorfas e tentarem tudo para morrer. Basicamente é uma catástrofe natural, que tem origem nas plantas. E esse conceito é assustador! Ainda para mais tão bem explorado no filme. Fazem-me alguma confusão alguns pormenores da história, mas na generalidade fiquei impressionado pelo força do conceito.

Ver o inexplicável tomar conta dos acontecimentos torna-se o cerne do filme. Shyamalan volta a explicar e mostrar pouco do que rodeia a história e, embora seja um grande risco, que lhe valeu criticas negativas, dá ao filme mais substância significativa. Dá também ao espectador oportunidade de se juntar aquele inexplicável, ao mesmo inexplicável com que as personagem têm de lidar. E isso é incrível. Na verdade não é um filme magnifico, muito longe disso (parece que o argumento poderia ter outro tipo de força em certos pormenores), mas é um filme que dá que pensar, e por isso tem o mérito que só Shyamalan costuma conseguir dar às suas histórias.




Curiosidades

85% do filme passa-se no exterior (onde as pessoas se suicidam após estarem em contactos com substâncias libertas pelas plantas para o ar).


Foi filmado completamente em sequência.


O conceito de apatia nas pessoas que aparece no filme chama-se Bystander Apathy e é um fenómeno psicológico com uma base teórica de comprovada forte.


Shyamalan escreveu o argumento a pensar especificamente em Mark Wahlberg para o protagonista - o professor de ciências.


Pyrethrins são uma neurotoxina derivada das plantas de Chrysanthemum, especialmente as que são nativas da Austrália. Esta toxina costuma ser encontrada em organismos insecticidas comuns para erradicar pestes. Numa parte do filme, Elliot (Wahlberg) fala sobre bactérias primordiais que mataram pescadores na Austrália. Pyrethrins são altamente tóxicas para as abelhas - que são o cerne do início do filme, já que se fala no desaparecimento de milhares de abelhas antes do fenómeno começar. Há uma frase atribuida a Einstein escrita no quadro da aula de Ciências de Elliot que diz mesmo: "Se a abelha [enquanto espécie] desaparecer da face do globo, então o Homem só terá mais quatro anos para viver".



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Críticas de fugir ao filme jazem aqui. Mas há uma, de uma crítica de prestígio, que diz:


"The Happening is a divertingly goofy thriller with an animistic bent, moments of shivery and twitchy suspense and a solid lead performance from Mark Wahlberg. "

Manohla Dargis, New York Times


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