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terça-feira, julho 01, 2008

Edmond 





Chama-se Edmond, mas poderia chamar outra coisa qualquer. É um filme, mas poderia ser outra coisa qualquer. Começou como peça de teatro. Sente-se isso, o que não é uma coisa má. Centra-se num homem, que não é alguém por quem sintamos particular simpatia. Edmond é um tipo perdido, muitos anos depois de ter nascido e muitos anos depois de se ter acomodado a uma vida.

Um dia, do nada, manda a mulher dar uma volta, sem apelo nem agravo, sem amor nem consideração, não há nada. Está vazio. Parte depois para o meio da cidade. Aquela cidade que ele evitou anos a fio. O objectivo inicial é a busca de sexo. Dos peep shows, passa para as prostitutas, até aos serviços mais especializados de uma espécie de bordel. Em nenhum destes locais que negoceiam sexo ele consegue o que supostamente quer, sexo.
Como homem livre de constrangimentos, reclama (com veemência) com o dinheiro que tem de pagar ou com as condições iniciais do serviço (o que vai contra tudo o que é considerado normal nestas ocasiões). Reclama com pormenores. É um homem determinado, mas mais determinado em ser revoltado do que em obter sexo. Depressa, a busca por sexo torna-se numa espécie de cruzada que o leva a espécie de auto-descoberta.
Não há aqui espaço para falinhas mansas, não há espaço para heróis, nem para pessoas simpáticas. Há um espaço cruelmente real para um homem em estado de revelação pessoal que acompanhamos sem o perceber completamente. Os exageros dão lugar a um crime. E a prisão dá lugar a uma adaptação estranha e incrivelmente brutal.
Certo é que este é um filme de ideias, ideais e diálogos estranhamente cativantes, de uma coragem assinalável, de uma competência incrível (argumento, interpretação, realização) e de uma força narrativa impressionante. Onde, claro está (até pelo responsável pela história), não falta um final tão imprevisível quanto forte. Escrito, obviamente, pelo brilhante David Mamet (que adaptou a sua própria peça teatral para o cinema). O protagonista, perfeito para o papel difícil, é o inadaptado William H. Macy, que depois de um papel inesquecível em Magnolia, volta a ter mais um desafio cumprido com distinção.

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