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quarta-feira, junho 13, 2007

Entrevista a Robert Remley 

Secção: Pessoas interessantes

"É importante que as estrelas sejam protegidas dos seus fãs"

Robert Remley. O vice-presidente da produtora da saga dos Senhores dos Anéis, New Line Cinema, esteve em Portugal para mostrar as primeiras imagens do filme em que John Travolta faz de mulher (Hairspray) e mais uma trilogia fantástica, A Bússola Dourada. Explicou também o seu papel na poderosa indústria do cinema.

por João Tomé
(versão integral da entrevista que saiu no jornal Destak a 4 de Junho)


Esta entrevista foi realizada no dia 31 de Maio, quinta-feira, de manhã, após a mostragem à imprensa dos dois segmentos (12 e 17 minutos) dos filmes Hairspray e A Bússola Dourada, apostas da New Line. Não estava prevista qualquer entrevista e, dada a presença do vice-presidente de uma produtora tão importante norte-americana, foi aproveitada a oportunidade e feitas perguntas de forma espontânea. Robert Remley, apesar de responsável pelo marketing, e com claras tentativas de promover os seus filmes, revelou-se um homem acessível, simpático e, aparentemente sincero que conseguiu traçar um retrato do seu trabalho curioso.





O que faz um vice-presidente de marketing de uma produtora de cinema concretamente?
Eu funciono como interface entre a equipa de trabalho doméstico, e todas as equipas espalhadas pelo mundo. Por isso, lido com cerca de 50 países.

Ajuda a promover os filmes de forma a serem vistos por todo o mundo. Gosta de fazê-lo?
Gosto do meu trabalho, sem dúvida, porque posso interagir com pessoas muito diferentes. Fazemos filmes muito bons e é muito divertido leva-los a países e culturas diferentes e adaptar a forma como os promovemos e apresentamos ao público. Por isso, traz muitos desafios, é muito interessante e um ambiente de trabalho muito estimulante. Já trabalho na New Line há 10 anos.

Como foi a promoção do maior desafio da vossa produtora, a trilogia do Senhor dos Anéis?
Essa foi uma espécie de experiência de uma vida para muitos de nós, porque foi um filme tão magnânime, que aconteceu tão depressa. Embora deva dizer que A Bússola Dourada é também uma trilogia (baseada em literatura), e em certos aspectos tão grande quanto O Senhor dos Anéis, em termos da sua produção e das suas necessidades de marketing.

A Bússola Dourada será para um público um pouco mais novo do que O Senhor dos Anéis?
Talvez, um pouco. Mas o interessante sobre os livros do Phil Pullman (que são menos conhecidos que os de Tolkien), é que quando vamos a Inglaterra a uma livraria, encontramos alguns na secção infantil, mas também são encontrados na secção de adolescentes e adultos. Os livros cobrem uma grande variedade de audiência. Há muitos elementos mágicos e interessantes para crianças, como os demónios e os animais que mudam, e o urso. Mas o tema e a complexidade do filme é muito interessante para adultos, porque lida em questões de autoridade, de fé. Quais as responsabilidades que têm na vida. Por isso, acredito que os filmes sejam tão abrangentes quanto O Senhor dos Anéis.

As escolhas de Daniel Craig e Nicole Kidman ajudará a trazer mais adultos?
Sem dúvida, mas não acredito que foi essa a razão que os produtores os escolheram. Na New Line queríamos fazer este filme com nomes mais sonantes do que O Senhor dos Anéis, pela natureza da própria história. Ambos os actores parecem perfeitos para este filme e também tivemos sorte que ele se tenha tornado um sucesso tão grande com o 007 – que foi depois de começar a fazer o filme.

Sobre o musical Hairspray, John Travolta faz o papel de uma mulher muito volumosa que é mãe de uma filha que quer dança. Como surgiu a ideia de colocar Travolta neste papel diferente?
Existe uma tradição antiga que é a base deste filme. O filme original de John Waters, tinha esta personagem da mãe interpretada por um homem e esse era um filme muito subversivo, de alguma forma, com tons mais negros. Houve muitos comentários sobre sexualidade e sobre quem somos no mundo. Quando esse material passou a um musical na Broadway, o tom do filme transformou-se por completo. Era essencialmente sobre diversão, energia e música. Mas a tradição de ter aquele papel de mãe a ser interpretado por um homem continuou – na Broadway foi interpretado pelo vencedor de Tony’s Harvey Fierstein. Por isso, quando apostámos numa versão do musical em filme quisemos manter aquela personagem interpretada por um homem. E a verdade é que John Travolta foi logo a primeira escolha. Foi a única pessoa a quem criamos oferecer o papel e demorou muito, muito tempo a convencê-lo.

Porquê?
Ele demorou muito tempo para definir como poderia fazer aquele papel seu. E o que ele poderá contar é que o que ele queria mais fazer com a Edna era fazer dela uma mulher muito doce. Ele não queria que se ficasse com a ideia do filme que era um homem a interpretar o papel de uma mulher, porque não é sobre isso. É mais sobre aquela personagem. Ele quis que a Edna tivesse muitas curvas, para que ele fosse muito feminina, apesar de ser muito grande. E ele foi a escolha ideal, porque abraçou o papel de forma tão entusiástica e quando vemos o grande número de dança no final do filme, é extraordinário… vemos um pouco do John Travolta de Grease, apesar de ser tamanho do XXL.

Voltando à sua profissão, não trabalha com as estrelas durante a produção?
Aí não propriamente. Trabalho com as estrelas quando os levamos pelo mundo em promoção. Por exemplo, há duas semanas em Cannes, quando lançámos A Bússola Dourada, estivemos com o Daniel Craig, a Eva Green e a jovem Dakota. Infelizmente a Nicole Kidman está em gravações e não pode vir. Por isso interagimos com as estrelas para promover o filme, mas não trabalho com eles nas gravações.

As estrelas queixam-se, por vezes, das muitas entrevistas que têm que dar. O seu papel pode ser ingrato?
É o trabalho, tem que ser feito. Mas é tudo uma questão de como interagimos com as estrelas. A equipa internacional da New Line tenta ter muito cuidado para que as estrelas estão sempre confortáveis. E elas viajam muitas vezes connosco. É um lado diferente do negócio. Tudo tem que estar muito organizado, para que corra tudo bem.
É muito difícil ser estrela hoje em dia com tanta falta de privacidade, tantos paparazzis. É difícil estar-se sozinho. Quando vamos para ‘a estrada’ com as grandes estrelas, temos mesmo que cuidar delas, porque elas estão muito à mercê do seu público. Eu percebo que, embora seja difícil fazer isso, é importante que eles sejam, de alguma forma, protegidos dos seus fãs (risos)…

Nestes anos todos aconteceu algum episódio curioso nas promoções de filmes?
Houve muitas situações loucas durante os dias do Senhor dos Anéis. Lembro-me de estarmos na Noruega uma vez, e havia um pequeno palco para os actores onde alguém ficou ferido durante a antestreia. E, no dia seguinte, o Viggo Mortensen, um homem muito interessante, foi ao hospital visitar a pessoa ferida. E pensei que era bem incrível.
E coisas incríveis acontecem a toda a hora, faz parte do processo. Às vezes são os fãs que criam alguns problemas, outras vezes os jornalistas ou mesmo pessoas da produção.

Já teve algum problema com jornalistas que abusaram numa entrevista?
Na minha experiência, os jornalistas têm sido muito correctos. Há relatos de jornalistas que se portaram mal, mas no geral os jornalistas são muito corteses, curiosos. Estão a fazer o seu trabalho também. Acredito que gostam de falar com as estrelas, gostam de fazer parte do processo, é excitante. Vêem-se coisas cedo, conhece-se pessoas interessantes. Em geral acho que a imprensa são nossos amigos.

Alguns jornalistas referem que é mais fácil entrevistar as estrelas em ambientes mais pessoais, como as suas casas, do que nos encontros com a imprensa…
É um ambiente muito complicado, nos encontros com a imprensa. Muitas entrevistas seguidas, muitas pessoas. É um ambiente um bocado artificial. Se tivéssemos o luxo de poder levar os jornalistas às casas das estrelas, beberem um café com eles, de certeza que o mundo da publicidade seria muito diferente, mas a realidade de onde vivemos é o que faz que tenhamos de fazer as coisas assim.
Há tantos jornalistas, tantos países e tão pouco tempo que as estrelas têm, para participar na promoção e apresentação do filme.

Em Portugal não acontecem grandes antestreias, com estrelas e promoção internacional. O que poderia Portugal fazer, como país, para mudar isso?
Acho que é muito maior do que Portugal. E este não é o único país que não tem muitas visitas das estrelas. Parte do problema é que quando as estrelas fazem um filme, existe um ano de produção e só depois começam a promover o filme e nessa altura já estão a fazer outras coisas. É muito devido a isso que é muito complicado vir a países como Portugal, ou Holanda, ou a maior parte dos filmes. Há falta de tempo. Para A Bússula do Tempo, vamos fazer antestreia em Londres a 26 de Novembro. Temos o ‘talento’ por cinco dias. Fazem um junket para imprensa de todo o mundo, e não há sequer tempo para ir a mais lado nenhum, em Espanha, nem França, quanto mais Portugal. Têm que voltar logo para os Estados Unidos.

Não podemos fazer grande coisa então…
O problema não é tanto o que Portugal pode fazer (há sempre custos, que são muito caros, que podem ser pagos pelas entidades dos país – há jactos privados e pessoas que os acompanham sempre), mas o problema maior é que há tantos filmes que são feitos e tão pouco tempo, que temos de receber o espaço que há, à medida que ele vem. Há medida que são feitos mais filmes, temos menos tempo para os promover com as estrelas. Para a New Line é complicado levar as estrelas por duas semanas a promover o filme.

Portugal tem um mercado muito pequeno, isso também poderá influenciar…
Um festival importante criado em Portugal poderia trazer atenção mediática e estrelas?
Sem dúvida. As estrelas vêm a festivais muito porque querem ir. Nós normalmente ajudamo-las a irem aos festivais, mas existe uma lógica diferente o que ajuda. E nós apoiamos os festivais e sempre que podemos levamos lá o talento.








No cinema, as entrevistas por telefone são menos comuns do que, por exemplo, na música… isso pode mudar?
Estão-se tornar um pouco mais comuns nos tempos que correm. Ajuda muito porque não é preciso ter o talento num sitio especifico, eles podem estar em qualquer lado. O timing é muito mais fácil. Há actores muito mais à vontade com entrevistas por telefone do que outros. Cada um tem as suas próprias peculiaridades. Alguns não gostam de televisão, outros não gostam de mesas redondas… mas os telefonemas são formas mais viáveis de conseguir entrevistas directas (um a um), com imprensa de locais mais pequenos.

Porque é que anda em digressão a mostrar partes dos dois filme e promovê-lo?
A razão é que achámos muito importante mostrar estes 12 a 17 minutos de filmes aos distribuidores e à imprensa agora. Porque o filme estreia dentro de seis meses e há muito trabalho a fazer em termos de efeitos especiais. A nível de efeitos especiais A Bússola Dourada é enorme. Todo o segundo acto do filme foi filmado em Shepherton, contra ecrã verde. E, como o Chris White diz, primeiro tem de filmar os actores com todos os actores e, depois, com os efeitos especiais, que é como filmar um segundo filme. Mas provavelmente não teremos o filme terminado até muito próximo da data de lançamento, que foi o que aconteceu com o Senhor dos Anéis. E senti que A Bússola Dourada é um filme que precisava que falássemos às pessoas sobre o que é. Os livros não são tão conhecidos quanto os livros do Senhor dos Anéis. O filme é muito complicado, sobre os assuntos que trata e ter estas imagens e vir à Europa, achei que era uma oportunidade perfeita.

De onde vem e para onde vai?
Vou a 10 países em 12 dias. Portugal é o primeiro, porque estou tecnicamente em férias, aqui em Portugal. Isso termina amanhã, quando começo a ir todos os dias a um país diferentes. Estou a ir ao maior número de países que posso. Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Escandinávia, Bélgica, Holanda, Grécia… e mais tarde a Itália.

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