quinta-feira, junho 01, 2006
Cinema nas salas portuguesas
Hoje (quarta-feira) tive uma verdadeira aventura por causa do filme Crianças Invisíveis. Este é uma conjugação interessante de sete curtas-metragens com ingredientes que considero verosímeis para poder estar em várias salas portuguesas. A estreia nacional acontece hoje, dia 1 de Junho, dia Mundial da Criança, o que faz com que muito apropriada a estreia do filmes neste dia. Depois, ainda existe um forte interesse de organizações como a Oikos, a Pobreza Zero, entre outras, neste filme, daí terem feito iniciativas em torno dele e tudo. Além disso, as notícias de amanhã, ou hoje, porque já é dia 1, irão falar na pobreza das crianças portugueses (Portugal é dos países europeus com crianças mais pobres houve um aumento de 26% de 2001 para 2003). As sete curtas, onde se incluem nomes de realizadores bem conhecidos, como Emir Kusturica, Spike Lee, Ridley Scott e John Woo. Só há um senão, aquele que me criou muitos problemas hoje,
SÓ ESTREIA NUMA SALA EM TODO O PAÍS!!!
Ora, porquê?
Isso foi o que eu tentei saber durante o dia de hoje, embora a resposta já andasse pela minha cabeça, mas queria ouvir da própria boca dos seus responsáveis. O filme, comprado pela ECOFILMES, é distribuido pela Vitória Filmes. No entanto, comecei por ligar para a Lusomundo. Falei com uma senhora bem prestável e simpática que me explicou, por alto, como tudo isto funciona. Perguntei, porque um filme como este, que até tem muito a ver com o Dia da Criança, não estreava em nenhuma das salas da Lusomundo. Ela prontificou-se a explicar que não sabia bem mas ,nestas situações, costuma ser por uma questão de estratégia da distribuidora, que aposta apenas numa sala para poupar dinheiro ao comprar só uma cópia da bobine. Explicou-me também porque esta semana filmes como, O Rafeiro e Ela é... Ele! são aqueles que contam com mais salas em todo o país. E porque filmes como, Stoned, Anos Loucos (que nem estreia no Porto) e Escolha Mortal, têm poucas salas. Tal como um filme inglês passado em Portugal durante do Europeu de futebol, Euro 2004 - Amor e Futebol, também não estreia sequer no Porto.
A resposta é óbvia e já a esperava: são filmes de qualidade (referindo-se também ao Crianças Invisíveis) ou de produtoras independentes que são vistos por uma elite e pouco pelas massas. Claro que um possível sucesso não é posto de parte. "Se um filme desse tipo, nas poucas salas em que estiver, for muito visto, há a possibilidade de passar para mais salas, mas é raro", disse. Percebido.
Liguei depois para a Vitória Filmes, que me confirmou que comprou só uma cópia do filme Crianças Invisíveis porque era caro comprar mais cópias para um filme [o que permitiria estrear no Porto ao mesmo tempo, por exemplo] para o qual não tinham muitas expectativas. E será que, se for muito visto, poderão haver mais cópias? "Só se for mesmo um sucesso tremendo, o que é dificil por haver só uma sala e, não nos parece."
Esclarecido? Talvez. Satisfeito? Longe disso.
Porque é que me indigno com isto? Essencialmente porque gosto de cinema. E, se cada vez mais posso ver um DVD ou um DIVx de um bom filme, não deixo de saborear ir ao cinema. E gosto de saber que os outros podem passar por essa mesma experiência que eu, no cinema. Não me considero elitista no cinema, mas esta semana, todos os filmes que ia destacar, nem sequer estreavam no Porto, e em Lisboa eram aqueles que tinham menos salas. Enfim. Uma coisa é clara: cada vez mais as distribuidoras portuguesas arriscam menos nos filmes, não se importando de colocar só comédias românticas em várias salas na mesma semana. Começa a haver menos variedade e isso é mau. Porque, se as pessoas que gostam mais de cinema e se informam mais, são capazes de ir ao UCI só para ver o Crianças Invisíveis, muitos outros que olham, por exemplo, para os cartazes das salas da Lusomundo, nunca encontrarão esse e outros filmes. Pelo que pude perceber, a culpa não é propriamente das salas da Lusomundo, nem mesmo de outras salas. Será mais pela pouca ambição e espirito de desafio das distribuidoras e também do público. Mesmo assim, acredito que fazem o público mais estúpido do que aquilo que é, verdadeiramente...