terça-feira, março 21, 2006
A history of Violence
A natureza da violência
Uma História de Violência. O novo filme de David Cronenberg é mais acessível que Spider mas traz também uma intensidade emocional e física brutal. Este é um retrato poderoso e bem conseguido sobre uma família e o que desencadeia a violência em torno dela, com Viggo Mortensen no centro.
João Tomé
A violência. A redenção. A mudança de vida. O amor, dos e pelos filhos, e, de e pela mulher. A localidade pacata unida e pacífica. O regresso do passado e da violência. Assim se poderia resumir o percurso do maduro Tom Stall (Viggo Mortensen) que acompanhamos aqui. Após o enigmático Spider (2002), David Cronenberg consegue novamente uma realização inteligente, atenta e mais acessível, com uma história pertinente e interpretações emocionantes. Uma História de Violência recolheu duas nomeações para os Óscares, uma de melhor actor secundário, para o veterano William Hurt, outra para melhor argumento adaptado, para Josh Olson. Mas a intensidade do filme de Cronenberg faz acreditar que merecia mais.
Luta pela sobrevivência
Sob o lema de que todos temos algo a esconder esta é uma história, primeiro, agradável e, depois, brutalmente violenta. Aliás, no início, custa a crer a aventura violenta que a família Stahl irá viver. Apesar de se passar numa localidade pacata e simpática dos Estados Unidos a história, baseada no romance homónimo de John Wagner, procura mostrar que as raízes humanas também têm violência. «Conceber esta ideia [de que a violência faz parte da estrutura social] provoca controvérsia, porque a sociedade é demasiado cobarde para aprender a viver com ela», afirmou recentemente Cronenberg que acredita que apesar do homem pensar num mundo sem violência, é incapaz de o alcançar. Tom (Mortensen) e Edie (Maria Bello) são um casal apaixonado com dois filhos que gere um restaurante. O filme começa por explorar as razões pela forma impiedosa e brutalmente eficaz com que Stahl se tornou herói local ao evitar que dois rufias matassem os clientes do seu café. Tudo muda quando gangsters de San Francisco, liderados por Carl Fogarty (Ed Harris), o descobrem pelas notícias e afirmam que ele é Joey, um ex-assassino desaparecido. Até ali, ele era Tom Stahl, tinha a vida perfeita, mas o passado encontrou-o e não o quis libertar facilmente.
O poder da família
Com Tom a ser perseguido pelo gangster Fogarty, assistimos aos dilemas de uma família, até ali, normal – um dos trunfos do filme. Tom e Edie tinham uma relação de grande confiança e paixão, amorosa e sexual, mas os novos acontecimentos vão criar dúvidas e abalar a família, tal como acontece em relação ao filho mais velho, Jack (Ashton Holmes). Passou de um miúdo contente em casa e agredido na escola para, agressivo com os colegas e desconfiado do pai. As relações familiares sofrem as alterações, fragilidades e resistências imanentes aos momentos complicados. O mesmo se sucede com a personagem de Viggo Mortensen, o papel mais complexo que alguma vez fez o Aragorn de Senhor dos Anéis. De destacar ainda a personagem de Ed Harris, Flagerty, e de William Hurt, que aparece na parte final do filme como um mafioso resignado com a sua condição. As personagens do filme de Cronenberg parecem estar em mutação, mas se calhar não mudaram, apenas revelaram uma parte de si menos visível. Um filme intenso e curioso que deixa várias questões morais sobre a violência e a redenção, assim como sentimentos invulgares e ambíguos.
Realização: David Cronenberg
Com: Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris, William Hurt, Ashton Holmes
Site oficial: A History of Violence
Género: Drama/Crime
Distribuição: Vitória Filme
EUA, 2005
96 min