quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Transamerica
América à descoberta da transexualidade
Felicity Hoffman está bem longe da “dona de casa desesperada” com que se tornou conhecida recentemente (é uma das protagonistas da célebre série norte-americana). A pose que ostenta aqui, o cabelo castanho esticado, o excesso de base na cara e o carácter feminino exagerado que mostra, fazem parte de uma personagem à procura de mudar, de vez, de género, de sexo. De homem para mulher, é uma passagem que muitos vêem como bizarra e mesmo condenável.
O filme conta uma história simples mas de dificuldades, sobre seres humanos e, acima de tudo, a transexualidade de Bree (Felicity Hoffman) e a descoberta de um filho. Existem, assim, semelhanças com o filme Brokeback Mountain, na tentativa de humanizar, agora, a transexualidade. Stanley torna-se em Bree, uma mulher transexual com uma educação superior, à espera da operação de transformação sexual final. Quando é confrontada por um telefonema de um jovem a dizer que ela é seu pai, percebe que uma relação heteresexual fortuita que teve há vários anos, ainda como Stanley, deu “um fruto”. Motivada pela psicóloga que acompanha a sua transformação, parte para Nova Iorque onde irá resgatar o jovem da prisão (era prostituto) e embarca com ele numa viagem de carro pela América até Los Angeles, onde vive e onde o jovem aspira a tornar-se actor pornográfico.
Sem ele saber que ela é o “seu pai”, ambos vão criar uma amizade estranha. A aventura da viagem irá aproximar os dois, quando ambos descobrem os segredos um do outro. Entre a comédia de vários momentos, e o dramatismo de outros, o filme tem o bom senso de não ser apenas sobre a transexualidade. Outro dos momentos cómicos/preconceituosos é quando Bree visita a família, por necessidade. A sua mãe estridente, chata e preconceituosa terá de se converter à nova condição do filho Stanley, ser uma “ela”.
Estas relações estranhas tornam-se tocantes. Quem não conheça a actriz Felicity Hoffman, na sua versão mais normal, pode julgar tratar-se mesmo de um transexual, já que durante o filme existe uma cena onde mostram o pénis e, noutra mais tarde após a operação, já com vagina. Este é um momento de enorme satisfação para Bree, e a cena em que aparece na banheira a tocar-se é muito breve, mas resulta. O filme do pouco conhecido Duncan Tucker, que se inspirou numa amiga que só mais tarde soube que era transexual, é também um dos primeiros da nova produtora dos irmãos Weinstein, após a saída da Miramax.
Realização: Duncan Tucker
Com: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Fionnula Flanagan, Elizabeth Peña, Graham Greene
Género: Comédia/Drama
Distribuição: Lusomundo
EUA, 2005
103 min