quinta-feira, setembro 22, 2005
She Hate Me
João Tomé - in Destak
Notas e notas, muito dinheiro é aquilo que faz movimentar o mundo corporativo dos Estados Unidos. As várias notas de dólar, vistas em pormenor, constituem o genérico inicial do filme, de George Washington a Benjamin Franklin, de um a mil dólares, e com uma montagem em que aparece George W. Bush numa mote, com o mote: «Can't spend it, can't save it, can't trust it».
É assim que começa esta sátira audaz, com humor e sarcasmo, de Spike Lee, que o próprio gosta de chamar “joint” – como faz em todos os filmes. Longe de ser tão consensual como o filme A Última Hora – teve mesmo críticas péssimas nos Estados Unidos –, aqui partimos do mundo corporativo norte-americano e todas as vicissitudes inerentes a ele. Spike Lee parece querer reunir várias temáticas muito actuais e pertinentes, todas num mesmo filme, nunca descurando a componente racial que lhe deu notoriedade.
A história
Acompanhamos uma parte da vida de Jack Armstrong (Anthony Mackie), um negro que é vice-presidente de uma empresa farmacêutica e mestrado em Harvard. A sua empresa alega ter a cura da SIDA, uma descoberta importante mas envolta em polémica. Após o suícidio de um dos técnicos europeus, que não teve coragem de fazer face aos poderes corporativos e exigir mais tempo de investigação – para se certificar da eficácia do medicamento –, Jack descobre que a pressa empresarial fez com que não se salvaguardassem regras importantes.
Com força de vontade e sentido de moralidade, denuncia a situação às autoridades competentes, mas a vida dele vai mudar para sempre. Apontado como ‘bufo’ é naturalmente despedido e vê as suas contas congeladas. Pior: a sua empresa está a tentar tramá-lo.
Lésbicas poderosas
Sem dinheiro e desesperado, a ex-namorada de Jack, Fátima, uma executiva poderosa que se tornou lésbica - o filme aposta muito neste tipo de mulher moderna -, oferece-lhe dinheiro para a engravidar a ela e à sua namorada.
Depressa Fátima vê ali uma oportunidade de negócio e espalha a palavra, fazendo com que dezenas de lésbicas com dinheiro e desejos maternais – mais actual é impossível –, paguem 10 mil dólares por gravidez – provocando situações que chegam a ser bem cómicas - um humor sórdido e cheio de sátira. É aqui que a história se perde um pouco, afastando-se em demasia do início corporativo.
Depois, as duas partes da história conjugam-se, com a empresa a tentar tramá-lo a todo o custo e o negócio de “fazer bébés” a complicar-lhe a vida. O resto é para descobrir no grande ecrã neste retrato peculiar, bizarro, mas estranhamente verosímil. Para a realidade, em muito contribui o desempenho de Anthony Mackie, um jovem actor natural de Nova Orleães que tem aqui o seu primeiro grande papel, depois de ter aparecido em Million Dollar Baby e 8 Mile, por exemplo. Outra aparição discreta mas curiosa é a de John Turturro, um mafioso italiano moderno cuja filha, a bela Monica Belucci (que parece cair no filme um pouco de ‘pára-quedas’) é uma das lésbicas que procura os serviços de Jack. Ingredientes contemporâneos é um filme que vale a pena é o que se pode encontrar em Ela Odeia-me.
«I just hope that people come out of the theatre really debating, discussing, and exchanging ideas about what they've seen»
Spike Lee
«Ela Odeia-me» chega aos cinemas nacionais
O humor e ódio de Spike Lee
Alexandre Costa - in Expresso
O controverso realizador negro norte-americano, Spike Lee, regressa hoje aos cinemas nacionais com a comédia «Ela Odeia-me».