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quinta-feira, setembro 29, 2005

The Brothers Grimm 

Irmãos da Fantasia

Os Irmãos Grimm. Começa com encenações de lendas e acaba por reunir, com autenticidade, várias histórias de encantar que apaixonam pela realização de Terry Gilliam e as interpretações dos brilhantes Matt Damon e Heath Ledger – uma dupla de bons actores que diverte, cativa e faz ‘química’.
Deixe-se levar pela magia.

João Tomé

Era uma vez os irmãos Grimm… podia ser assim o inicio deste filme que é um regresso à fantasia no grande ecrã. Em Brothers Grimm podemos sonhar e saborear uma imaginação fértil, honesta, divertida e intensa. Recordar histórias de encantar, mitos e fábulas bem antigas e que fascinam gerações de humanos há muitos séculos, é uma das propostas de Terry Gilliam num filme que fascina, apaixona e nos leva para uma floresta muito especial.

É arriscado fazer um filme em que se fala de muitas destas histórias de ‘encantar’ tão clichés quanto marcantes. Talvez por isso, foi um processo longo para Gilliam realizar esta obra e, depois, colocá-la nas salas. Problemas iniciais com os produtores originais adiaram o projecto. Depois os irmãos Weinstein, da Miramax, chegaram e passado pouco tempo criaram novos problemas com Terry Gilliam, que fez uma pausa a meio da rodagem do filme, de seis meses, para realizar Tideland, e depois voltou à carga – felizmente não se nota isso.

Todas estas contrariedades fizeram a crítica norte-americana desconfiar do filme e, talvez, não lhe dar o devido valor que ele merece (nas críticas). Com um guião da argumentista de The Ring, Ehren Kruger, a história é bonita e torna-se fantástica e realista nas mãos de Grimm e do elenco de actores, dando às histórias que inundam o projecto uma veracidade tocante e mágica – apesar da escolha do elenco também ter sido polémica.

Comédia negra?
O ambiente mágico, forte visualmente, sombrio e perturbador que o filme inclui, numa época distante onde as lendas e os mistérios faziam parte das crenças das populações são temas fortes que resultam.
Acompanhamos o percurso de dois irmãos alemães, Will e Jake Grimm (Matt Damon – curioso como o actor volta a ser Will, depois de O Bom Rebelde – e Heath Ledger, respectivamente), muito diferentes, mas inseparáveis – apesar de alguns arrufos sentimentais a meio do filme, que depressa voltam a ser em irmandade intensa.

Em tempos de vida difícil os dois jovens ambiciosos, um deles com o poder da palavra e da manipulação (Will), o outro o poder da crença, o estudo e o prazer de coleccionar contos e lendas (Jake), vão começar por ganhar dinheiro a enganar as populações de que existiam monstros, bruxas, ou fantasmas por perto, para pedir uma quantia para depois os supostamente destruirem.
Com um esquema inteligente e bem pensado eles tornam-se famosos nas redondezas. Mas a fama de peritos em ‘mau olhados’ e destruidores espíritos maléficos acaba por levá-los à prisão e eminente condenação à morte, por parte de um governador francês que tem planos para eles.

Numa aldeia do reino as crianças estão a desaparecer, por o que os governantes pensavam ser um charlatão que tentaria enganar e assustar a população. A partir daí, o que nos espera é uma aventura tão intensa quanto mágica. Depois de uma simulação do ‘encanto’, entramos numa parte do filme em que o misticismo das velhas lendas passa a ser real e verosímil.

Will e Jake partem com o divertido Cavaldi (Peter Stormare), comandante do governante, para a aldeia de inspiração medieval – com casas e barracões modestos de tonalidades castanhas e muito convincentes – onde conhecem a bela e selvagem Angelika (Lena Headey).
Esta personagem traz algum romance ao filme e ao mesmo tempo um espírito selvagem, é a presença dela que vai criar involuntariamente uma pequena cisão entre os irmãos que depressa se voltam a unir mais fortes do nunca.

A sua missão inicial é ajudá-los na entrada para a floresta, o que ela faz por dois motivos, porque é quase obrigada e também porque pretende recuperar a sua irmã mais nova, também raptada pela floresta. Sempre a julgar tratar-se de um esquema de alguém para assustar a população os irmãos Grimm são surpreendidos pela magia e fantasia presente na floresta encantada, onde a história do Capuchinho Vermelho, Cinderela, a Casinha de Chocolate, Hansel e Gretel e Rumpelstiltskin vão ser evocadas e estranhamente abordadas.

A qualidade dos efeitos especiais – que não se subtis, felizmente – e da realização dão veracidade à história que conhece ainda na floresta, árvores seculares que se movem estrategicamente, uma senhora sapo que indica o caminho quando beijada, lobos ferozes, lama estranhamente dinâmica, uma rainha ‘presa’ a um feitiço (a bela Monica Bellucci, perfeita no papel de rainha madura) no topo de uma torre e muitas outras surpresas emoções e fantasias que fazem deste um filme apaixonante.
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Terry ama contos
Uma das motivações principais de Terry Gilliam em realizar este projecto e ser exigente na sua elaboração foi a predilecção do realizador que filmou alguns dos episódios dos Monty Python, em histórias de encantar.

Ver aqui [na secção Behind the Scenes] Gilliam a contar os seus gostos e pormenores da filmagem:
TERRY GILLIAM: I grew up with Grimm’s fairy tales. I’m a great sucker for fairy tales. I think they’ve informed everything I’ve done. I think all of my films are fairy tales in different ways. So the Grimms were an incredibly important part of that. What I never wanted to do was to actually do their fairy tales because everybody does that, and you’re kind of trapped in that world. So what this allowed me to do is incorporate some of them and mix and match them, and basically gave me a chance to make a fairy tale about the Brothers Grimm. It’s not the Brothers Grimm, they’re not the real people, they’re not historical people, it’s put in the right historical context when the French had invaded Germany. We even got their ages wrong, we’ve got Will as the older one and Jacob as the younger one, it’s the other way around, I just checked it out a couple of weeks ago. <--->

Inspirações
Para além do interesse do filme, é engraçado perceber que a história destes dois irmãos trapaceiros é baseado em factos verídicos. Existiram de facto estes dois irmãos, que no final do século XVIII percorriam aldeias alemães a encenar contos populares, ganhando fama e dinheiro por isso.
Matt Damon explica assim a história verídica: «Os dois irmãos, ao longo da vida, foram sempre inseparáveis com uma relação muito próxima. Viveram juntos grande parte da vida e mesmo depois de casarem viveram muito perto um do outro. Foram também pessoas muito influentes e importantes na Alemanha do século XVIII, um deles teve um cargo governativo de grande relevo. Ambos consultavam-se muito mutuamente sobre as decisões das suas vidas.»

http://miramax.com/thebrothersgrimm
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CLASSIFICAÇÃO: 4/5
De: Terry Gilliam
Com: Matt Damon, Heath Ledger, Jonathan Pryce, Monica Bellucci, Lena Headey
Género: Fantasia/Aventura/Thriller
Origem: República Checa/EUA
118 minutos
www.miramax.com/thebrothersgrimm


NOTA: O filme foi rodado nas florestas da República Checa, um país que começa a acolher as rodagens de muitos dos grandes filmes de Hollywood. Portugal, apesar de ter uma comissão para angariar as produções de grandes filmes, parece passar ao lado de tudo isto.


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