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quinta-feira, junho 30, 2005

Guerra dos Mundos 

Tom Cruise e Dakota Fanning fazem uma dupla interessante como pai e filha. Uma relação em evolução que é tão actual como relevante.

[Fui ver o filme esta manhã... só fiquei um pouco desiludido com o final, mas a classificação é de 4.4 em 5. Também acho que se poderia ter arriscado e tornado o filme um pouco mais longo, valia a pena!]

Realizador: Steven Spielberg
Elenco:
Tom Cruise Ray Ferrier
Justin Chatwin Robbie Ferrier
Dakota Fanning Rachel Ferrier
Tim Robbins Ogilvy
Baseado no romance de H.G. Wells War of the Worlds
Argumento adaptado por Josh Friedman

Esta homenagem a H. G. Wells e ao seu livro Guerra dos Mundos retrata com pormenor e uma sensação de realismo tocante uma perspectiva particular e humana do que seria uma invasão do planeta por extra-terrestres com intenção de exterminar a raça humana e sediarem-se no nosso belo planeta. Bem longe das perspectivas muito gerais de uma invasão aliegena, este novo desafio de Steven Spielberg volta a dar um lado humano muito forte e concreto. Com semelhanças claras com o inspirado E.T. nas relações inicialmente agrestes e depois afectuosas nas personagens, agora os extra-terrestres vêm para destruir e é na raça humana e na procura pela sobrevivência que reside uma moral tocante, em evolução e convincente. Spielberg é muito preciso, e segue com pormenor as vivências de Ray Ferrier, um homem mal humorado, divorciado e com filhos que em muito pouco admiram o pai, bem pelo contrário.
É a entrada no nosso planeta de aliegenas, que põem a descoberto máquinas poderosas - chamadas de Tripods -, que estavam escondidas há milhares de anos no subsolo, que vai transformar as vidas dos seres humanos, mas a história de Wells, que Spielberg segue é a perspectiva de Ray, e da luta pela sobrevivência com o filho adolescente e a filha (Dakota Fanning) ainda criança.
A força da personagem de Ray dá a Tom Cruise mais uma interpretação brilhante e convincente. É desleixado, aparentemente zangado com a vida e pouco atencioso para com os filhos, que vivem com a mãe e um padrasto em tudo diferente do pai (para melhor). A história é simples mas poderosa e cativante, focando um assunto que faz colocar em causa a nossa realidade actual, o mundo e planeta tal o qual o vemos, e tudo é feito de um modo muito humano e crível, daí o interesse e reflexão que proporciona. Mas outro dos interesses profundos do filme é a história familiar que conta, é a ela que estamos intrinsecamente pegados e que nos preocupa. As relações familiares que existem entre pais e filhos são uma das facetas mais bem conseguidas da história, com problemas que na adversidade podem ser ultrapassados, descobrindo-se preocupações e amores intensos.
Os locais de filmagem são perfeitos e a imagem, por incrivel que pareça num blockbuster, faz, em certas partes, lembrar um documentário - apesar dos efeitos computadorizados após a chegada dos invasores.

Em pano de fundo, como moral de uma história que por si só já vale a pena, temos uma nota introdutória e uma nota final que assumem uma moral comum às invasões feitas na história. Neste caso, recorrendo aos micro-organismos especificos e característicos de cada planeta, uma espécie de justificação para dizer, que o invasor mais poderoso e evoluído pode fracassar por onde menos espera, pelas partículas mais insignificantes.
É de realçar também a voz perfeita do narrador, pelo inigualável Morgan Freeman, que aparece nos momentos indicados para colocar uma perspectiva mais geral sobre a tragédia familiar.


A transformação de personagem de Ray, que passa de um pai desleixado, para um progenitor dedicado, preocupado e lutador pela sobrevivência dos filhos espelha a parte do enredo mais humana. Aliás, é sempre na perspectiva de Ray que vemos o filme, o que ele vê e sabe é o que nós vemos e sabemos. Até aí a pertinência do filme é peculiar e interessante. Não há imagens do planeta todo a ser destruído, e estava, da devastação global. Aparecemos ali sem saber bem o que se passa, perturbados e em busca de respostas, tal e qual Ray. Quando eles as sabe, nós também as sabemos.
Engraçado ver os pormenores de Spielberg nas semelhanças entre E.T. e Guerra dos Mundos. Apesar da sociedade ser, claramente, a actual, a acção parte de um bairro da parte portuguesa de Newark, onde as pessoas vivem em casas modestas e algo pobres e existe um comércio pacato - chega-se mesmo a ver uma loja chamada "Santos". É nesse meio que entramos, e nunca chegamos a sair muito dele, dada a invasão ter começado, para Ray, aí. Outra semelhança fantástica com E.T. são os casacos "de treino".

É inesquecível as cenas dos jovens que utilizam casacos de treino com capuzes característicos, ora essa é uma presença clara neste filme tanto em Ray como no filho. Tom Cruise tem um interpretação bem conseguida. É engraçado vê-lo numa personagem tão distinta dele no aspecto do desleixo. Tom é uma pessoa muito organizada e metódica, mas neste filme tem uma casa que parece uma pocilga, sem nada para comer e com arrumação péssima.
Neste filme ele faz um Ray pouco sociável, difícil até, quando ele é dos actores mais sociáveis de hollywood. Aliás, é fantástico ver a ausência de risinhos constantes no filme, algo presente em qualquer aparição pública do actor. Raramente se vê a cara de Cruise, em video ou imagem, numa aparição pública que não seja a sorrir por completo para as câmaras - um talento, dizem uns, uma maldição, dizem outros - eu sou dos outros. É o actor mais sorridente fora dos ecrãs, de sempre.

GUERRA DOS MUNDOS é emocionante, espectacular e muito humano. Este é um filme que ficará na história, por vários motivos. Spielberg voltou a criar algo belo e único, incluido Tom Cruise na imortalidade cinematográfica também - pelo menos até os extra-terrestres chegaram...

Mais semelhanças que diferenças
Apesar da acção do livro de Wells decorrer em Inglaterra, dos soldados batidos serem da guarda britânica e dos tempos serem outros, as semelhanças com a obra de Wells, neste filme são claras e inequívocas, a demonstrar que o tempo e o local não mudam a génese e base da história. E que em termos de vivências mais modestas, pelo menos, o mundo talvez não tenho mudado assim tanto.


De referir ainda as boas interpretações de Dakota Fanning e do papel engraçado e algo trágico de Tim Robbins. O suspense que se sente nas várias cenas é aliciante, mas as cenas com o obcecado Tim Robbins, mostram um jogo do rato e do gato bem conseguido.

LINKS IMDB: In War of the Worlds, director Steven Spielberg and Tom Cruise reimagine H.G. Wells's cataclysmic meeting of two civilizations. Trailer: Photos: Official Site - mais fotos

Spielberg, Dakota e Cruise em acção numa das caves em que se protegeram.


Comments:
Este promete. Espero que esteja ao nível do excelente "Relatório Minoritário" e não dos medianos "Apanha-me se Puderes" e "Terminal de Aeroporto".
 
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