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sábado, maio 14, 2005

Ícones 'rock'n'roll' invadem o cinema 


[A saga dos biópicos não pára........]

O novo Last Days de Gus Van Sant, centrado na figura de Kurt Cobain e ontem exibido em Cannes, é apenas um entre os muitos filmes rock'n'roll que os ecrãs vão acolher nos próximos meses. Ian Curtis, Bob Dylan, Janis Joplin, Brian Jones e Jimi Hendrix são os senhores que se seguem.

Depois de já este ano terem estreado entre nós Ray, de Taylor Hackford (míope biopic de Ray Charles) e o mais discreto e interessante Beyond The Sea, de Kevin Spacey (sobre a vida de Bobby Darin), muitos outros vêm a caminho, mas todos eles ainda em produção.

Oportuno num tempo em que se assinala o 25.º aniversário da sua morte, Ian Curtis vai ser a figura central de Closer, filme baseado no livro Touching From a Distance (Carícias Distantes na tradução portuguesa editada pela Assírio e Alvim), biografia do mítico vocalista da Joy Division assinada pela sua viúva, Deborah Curtis. O filme será rodado por Anton Corbijn, fotógrafo que captou imagens históricas da banda e filmou o teledisco de Atmosphere. O elenco ainda está por definir, mas Peter Hook, antigo baixista da Joy Division (hoje nos New Order) revelou publicamente que não lhe pareceria má a escolha de Jude Law para o papel de Ian Curtis, embora preferisse ver no seu lugar o actor Sean Harris, que já encarnou a sua pele em 24 Hour Party People, de Michael Winterbotom.

Bob Dylan será alvo de dois projectos. Um deles, Anthology Report, em registo de documentário, é da responsabilidade de Martin Scorsese. Mas o músico já fez saber que não está muito interessado em colaborar... Dylan é ainda o ponto de partida para I'm Not There, de Todd Haynes, no qual o realizador já revelou que ruminará sobre a história do músico e usará vários personagens para personificar aspectos da sua vida e obra. Do elenco deverão constar Cate Blanchett, Adrien Brody, Charlotte Gainsbourg, Richard Gere e Julianne Moore. Rumores falam de uma abordagem a Dylan no estilo compósito de Velvet Goldmine, filme de Haynes no qual este sugeria um mergulho pessoal pela herança do glam rock e da figura de David Bowie.

De produção britânica, Stoned, de Stephen Wooley (primeira obra de um veterano na produção) vai retratar a nebulosa morte, que se crê acidental, de Brian Jones, dos Rolling Stones. Leo Gregory será o mítico experimentador da pop.

Renée Zellweger vestirá entretanto a pele de Janis Joplin em Piece of my Heart, realizado por Anne Meredith. A cantora Pink também será Janis Joplin, num outro filme. Trata-se de Gospel Acording To Janis Joplin, de Penelope Spheeris. E Andre 3000, dos Outkast, espera final feliz para o confronto entre produtor e família de Jimi Hendrix para poder encarnar o mitíco guitarrista no cinema.

O mercado (sala ou DVD) espera entretanto a chegada do documentário The Nomi Song, de Andrew Horn (estreado este ano no Festival de Berlim), sobre a vida e obra de Klaus Nomi.
in DN, por Nuno Galopim

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O fantasma Cobain
"Originalmente, queria fazer um biopic convencional. Essa ideia durou pouco tempo. Mais tarde, ao ouvir várias pessoas falar sobre pequenos aspectos da vida de Kurt Cobain, como o facto de gostar de macarrão com queijo, comecei a assentá-los. E decidi rodar Last Days de uma forma muito espartana, chamando Blake à personagem. É tudo ficção, porque não temos muita informação sobre os dois últimos dias de vida do Kurt. Não se trata de uma representação rigorosa de uma pessoa, é mais um exercício poético".

Assim explicou Gus Van Sant, na conferência de imprensa do seu filme Last Days (competição), a razão porque esta não é uma biografia convencional sobre o suicídio do líder dos Nirvana, porque o destroço humano (interpretado por Michael Pitt) que se passeia pelos bosques e vagueia por uma mansão vitoriana sujo, "pedrado", titubeante e murmurando com os seus botões, é referido como "Blake" e não como "Kurt", e porque não realizou um filme linear e "dramático", mas antes algo como um ensaio, visual, sonora e emocionalmente impressionista, cheio de disjunções, elipses, planos repetidos de pontos de vista diferentes, povoado por presenças e não por personagens. E a presença mais forte de todas é a de Blake, filmado por Van Sant como se fosse um fantasma a libertar-se em câmara lenta do seu invólucro corporal, alguém por quem a morte já passou e marcou para vir buscar daqui a nada.

Tal como Elephant, que ganhou a Palma de Ouro aqui em Cannes em 2003, não era directamente "sobre" o massacre do Liceu de Columbine, também Last Days não é expressamente "sobre" o homem que, como diz a sua agente (interptretada por Kim Gordon, dos Sonic Youth), "resume todos os clichés do rock n'roll. Mas só quem não quiser é que não vê que se trata de uma recriação, enviesada, opaca, mas sempre uma recriação, das derradeiras horas de Kurt Cobain antes de ter dado um tiro na cabeça e se ter transformado definitivamente numa lenda.
in DN, por Eurico de Barros

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