sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Um Óscar para Eastwood
Clint Eastwood (esq.) e Ray Charles (dta.) vão ser protagonistas nos Oscares. Scorsese deverá contentar-se com prémios de menor relevo do que filme e realizador.
Crónica de Jorge Leitão Ramos - in Expresso
Está tudo a postos para a cerimónia dos Óscares, domingo à noite. No topo das dúvidas uma oposição entre gigantes: Martin Scorsese versus Clint Eastwood. Mas este ainda não é o ano de Scorsese.
Em 1981 devia ter ganho com «O Touro Enraivecido» - mas a Academia escolheu o menos áspero «Gente Vulgar» de um actor que se alcandorava a realizar: Robert Redford.
Em 1989 teria sido justo que lhe dessem o Óscar por «A Última Tentação de Cristo» - mas os jurados não podiam celebrar o polémico, cristianíssimo, só que blasfemo filme, segundo algumas episcopais autoridades, e o prémio foi para Barry Levinson, com «Rain Man - Encontro de Irmãos».
Em 1991 o fabuloso «Tudo Bons Rapazes» era quase óbvio, mas meteu-se-lhe pela frente outro actor a tornar-se realizador e o Óscar foi mesmo para Kevin Costner e o sobreavaliado «Danças com Lobos».
Em 2003 o visceral e arrebatador «Gangs de Nova Iorque» parecia imbatível - mas a memória do Holocausto falou mais alto e foi Roman Polanski o laureado (com «O Pianista»).
Este ano, «O Aviador» tem todas as condições para ser apreciado pela gente de Hollywood. É uma grande saga biográfica, comemora o passado glamouroso dos anos dourados do cinema, tem cenários de sonho, actores excelentes, não tem nada nem de politicamente incorrecto... Só que não é, ainda assim, um filme de Scorsese capaz de ombrear com as suas máximas obras (é mesmo inferior a todos os que lhe deram nomeações nesses anos em que devia ter ganho - e não ganhou). E, pior que tudo, tem pela frente um filme que nos põe a todos de joelhos: «Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos». A emoção febril, quase religiosa, que o filme de Clint Eastwood provoca, a tranquilidade genial com que essa fita olha as questões mais essenciais da vida, não pode deixar de ser reverenciada como merece. Como diz alguém que muito estimo, é um filme que devia ganhar os Óscares todos, todos, todos... Porque é um filme perfeito.
Scorsese vai perder e, pela primeira vez, é justo que perca.
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