domingo, outubro 24, 2004
Festival de Cinema Documental
Começa hoje com "The Revolution will not be Televised".
O II Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa arranca hoje (dia 24) no grande e pequeno auditório da Culturgest e mantém-se até dia 31 de Outubro.
O evento apresenta cerca de 60 filmes repartidos por cinco secções: «Competição Internacional», «Para onde vai o documentário português?», «Foco sobre Espanha», «Como entender o Médio Oriente?» e «Sessões Especiais».
Filmes portugueses e alguns estrangeiros serão apresentados pelos próprios realizadores. Seguir-se-ão as projecções dos filmes legendados em português.
Durante oito dias de intensa actividade, o Festival apresenta novas formas de pensar, de ver o mundo e de comunicar. O evento aposta numa visão sobre o ressurgimento do cinema político e o passado enquanto conhecimento da história, mas também aborda uma nova forma de documentário contemporâneo onde a fronteira entre ficção e realidade se revela cada vez mais dissipada.
Acha Mesmo Que o Mundo É como o Vê na Televisão?
por Alexandra Prado Coelho e Vasco Câmara
A realidade é uma questão de ângulo?
Numa cena do documentário "The revolution will not be televised" vê-se um grupo de civis sobre uma passagem elevada numa rua, protegidos por um prédio, e a disparar contra outra rua em baixo. As imagens foram exibidas pelos canais privados venezuelanos que explicaram que se tratava de apoiantes do Presidente Chavez a disparar contra uma manifestação pacífica de civis anti-Chavez, e que os tiros tinham provocado feridos e mortos.
Mas de repente o plano abre-se e já não vemos apenas os pró-Chavez de armas na mão a disparar para baixo. Vemos também a rua de baixo. E está vazia.
Os autores do documentário, uma equipa de televisão irlandesa, mostram claramente como as televisões privadas, que apoiavam os golpistas que em Abril de 2002 tentaram derrubar Chávez, tinham um objectivo ao mostrar aquelas imagens daquele ângulo. Era a realidade que lhe convinha: os apoiantes do Presidente a disparar contra civis desarmados.
"The revolution will not be televised" é o filme escolhido para abrir a II edição do festival de documentários DocLisboa 2004 (domingo, 24, às 18h), na Culturgest. Não é por acaso, cabe-lhe a abertura por causa do simbolismo: as coisas podem ser vistas de outra maneira. É isso - que a realidade muitas vezes não cabe nos limites da televisão - o que os organizadores deste festival querem mostrar. A forma como eles o disseram daria até um "slogan" para agitar: "Vamos mostrar filmes sobre assuntos que passam todos os dias na televisão e que não vemos todos os dias na televisão".
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