quarta-feira, outubro 06, 2004
Diários de Che Guevara - Motorcycle Diaries
O jovem «Che», segundo Salles
«Eu já não sou eu. Pelo menos não sou o mesmo que era.» É desta forma que termina o filme Diários de Che Guevara, e é exactamente a transformação emocional e política de um jovem, que parte à aventura pela Argentina, Chile, Perú e Venezuela com um amigo, que se trata neste filme. O jovem é o estudante de medicina, Ernesto Guevara – que mais tarde se tornou no inspirador de milhões, Che Guevara –, e a história da película é baseada nos diários que o próprio escreveu na sua primeira viagem em 1952 pela América, e nos depoimentos do seu amigo, Alberto Granado, actualmente com 82 anos – e que aparece no final do filme. Ambos vão à aventura pelo seu continente, mas pouco a pouco descobrem também a realidade política e social que os circunda e isso modifica-os.
João Tomé
(versão aumentada da publicada no jornal Destak, em Setembro 2004)
A realização intimista do brasileiro Walter Salles, leva-nos por uma América Latina de uma beleza natural única, com rios, montanhas e desertos deslumbrantes, pouco conhecida e pouco vista nos filmes mainstream. Ernesto e Antonio percorrem 12.425 km a maior parte deles numa motorizada mal tratada, de nome "La Poderosa": desde as zonas mais inabitadas e inóspitas, com neve e o sol quente do deserto, até às zonas mais habitadas, onde existem diferentes tipos de civilização: dos incas à colonização dos espanhóis.
O jovem Ernesto, tanto no filme como nos seus diários ao se deparar com o "mundo" da civilização inca pergunta-se: «É possível ser nostálgico por um mundo que nunca conhecemos?». A resposta do próprio Ernesto é afirmativa, essa é também a base para a sua transformação ao longo da longa jornada.
De Buenos Aires a Caracas há: juventude inquieta e espíritos apaixonados; amor pelo longínquo e pelo risco; saudade e entusiasmo; alegria e tristeza; solidariedade e ideais morais e políticos. Os jovens descobrem e levam-nos à descoberta da riqueza étnica e cultural da América Latina, contactando de perto com os vários povos que encontram, influenciando e deixando-se influenciar. Há um grande valor humano não só de amizade entre dois amigos, como de solidariedade e de idealismo. Gael García Bernal (mexicano) e Rodrigo de la Serna (argentino) – Ernesto e Antonio – têm excelentes interpretações num filme totalmente falado em castelhano mas que ganha uma mensagem universal.
«Esta é uma história de dois jovens que deixam o seu país numa viagem repleta de aventura, e esta viagem de descoberta passa a ser também de auto-descoberta». Quem o diz é Walter Salles, o famoso realizador de "Central Brasil", que entrou no projecto por intermédio dos produtores Robert Redford e Michael Nozik, para dar a conhecer alguns dos motivos que tornaram o jovem Ernesto, no conhecido revolucionário Che Guevara.
Aqui já os dois aventureiros tinham perdido a sua "Poderosa", a velhinha mota Norton, 500cc, que os acompanhou a maior parte da viagem.
O filme termina com nostalgia. É o fim de uma viagem emocionante e de descoberta que acompanhamos como nossa. No final, custa vê-los separarem-se um do outro, tal é a aventura intensa que têm em comum. Mas os dois amigos levam coisas diferentes da viagem. Um consegue um emprego em Caracas numa clínica, o outro leva em mente ideiais que nunca pensou ter. Só sabe que não voltará a ser o mesmo... Uma história para quem quer conhecer mais sobre Che Guevara, sobre a américa Latina e sobre a natureza humana.
Realização: Walter Salles
Com: Gael Garcia Bernal, Rodrigo de la Serna, Mia Maestro, Mercedes Moran, Susana Lanteri
Classificação: 4.0
O realizador brasileiro (realizador do aclamado Central do Brasil), dá explicações ao elenco.
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