quinta-feira, outubro 07, 2004
Balas&Bolinhos: o Regresso
A primeira sequela portuguesa
Personagens capazes de tudo. Irreverência e excessos. Situações muito cómicas misturadas com muita aventura. Estes são os ingredientes que Luís Ismael – que argumentista e realizador – colocou no regresso do Balas e Bolinhos, que é um filme de 2000, com 62 minutos, que se tornou de culto depois de passar pela Sic Radical e pelo Fantasporto. Na semana passada, estreou a sequela já com outras condições técnicas e 108 minutos de peripécias da legião dos “duros”. Tone, Culatra, Bino e Rato lembram-se agora de roubar um mapa do tesouro e as aventuras cómicas sucedem-se... Pelo meio o humorista Fernando Rocha também participa ao fazer de traficante de armas. O MagaCINE falou com o criador, actor e realizador, Luís Ismael (32 anos) sobre o projecto que promete divertir o máximo possível.
João Tomé
Como surgiu a ideia de fazer a primeira sequela portuguesa?
Quando acabámos o primeiro Balas e Bolinhos, em 2000, achámos muita graça aos personagens e pensámos que seria bom continuar aquelas histórias. Depois mais tarde eu reparei que não havia nenhuma sequela no cinema português. Também foi quase uma brincadeira: porque não fazer a primeira sequela do cinema português? Então uma noite, estando eu a passear com o meu cão, tive uma ideia muito gira para voltar a reunir aqueles personagens, algo que era exequível, senão nós não teríamos arrancado. Podiamos realizar a ideia com o dinheiro que nós tinhamos, por isso chamei as “tropas” e começámos a pré produzir o filme.
Como foi este upgrade, a passagem de um filme de cerca de 1500 euros e 62 minutos para outro com grande promoção, de 150 mil euros e 108 minutos?
O primeiro surgiu naturalmente, porque queriamos fazer algo diferente, queriamos fazer cinema. Mesmo que nos critiquem e digam que aquilo é amador, tudo bem, nós assumimos isso, mas pelo menos fizémos alguma coisa. Durante estes três anos que estivémos a aglomerar esforços e dinheiro para que as coisas corressem bem, com mais qualidade, também decidimos que só avançávamos para o próximo filme se tivéssemos boas condições técnicas para isso, o que aconteceu.
O que o levou a pegar nestas personagens portuguesas tão peculiares? Os portugueses são bons para parodiar?
Acho que tem a ver da forma como se pega nas particularidades portuguesas e estas personagens representam o desenrascanço, o deixar tudo para a última e a falta de rigor dos portugueses. Quando fiz o primeiro Balas e Bolinhos andava a fervilhar com a ideia de fazer quatro criminosos à portuguesa. O Bino é aquele sujeito totalmente avariado pela droga que quase se transforma numa “mula humana”. Já o Rato procura todos as oportunidades para arranjar dinheiro. Pôs um miúdo a vender droga nas escolas e disse-lhe: “se alguém perguntar se andas a vender drogas, tu não sabes de nada, dizes que é farinha, queres ser padeiro e andas a treinar”. O Culatra é quase um assistente e o Tone acha-se a mente brilhante do crime, o líder do grupo, um patrão ridiculo.
Este é um filme do sistema, contra o sistema, ou nem uma coisa nem outra?
Tenho muito pena que em Portugal só um grupo de previligiados continuem a filmar. Porque as oportunidades surgem só para alguns. Eu acredito que a política de subsídios do ICAM não é a mais correcta, daí se calhar este filme seja contra o sistema vigente de subsídios. Nem candidatámos o filme ao ICAM, já sabia que a resposta era negativa. As pessoas têm a noção de que a comédia não é cultura, em Portugal a comédia é um deus menor, uma área que as pessoas dão pouco importância, embora leve mais as pessoas ao cinema. Aliás, agora a Lusomundo está com intenções de editar o filme em DVD e nós ficamos muito contentes por isso.
Quais os projectos futuros? O que ambiciona para este filme?
Tenho vários projectos para o futuro. Escrevi argumentos como o Cartas de Amor e Ódio e o Guerra (sobre a guerra colonial), que é um filme que adoraria fazer, porque fala nas dificuldades dos homens que vieram da guerra do ultramar – uma visão crua e brutal de como foi a guerra colonial. Falei com muitos ex-combatentes para fazer o esse argumento e muitos tinham problemas em falar na experiência, e se abrirem. A parte da sociedade que esteve na guerra colonial fala pouco sobre isso.
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