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segunda-feira, setembro 27, 1999

Entrevista a Danny Cannon 


Golo. Alguns dos melhores aspectos do jogo que atrai milhões são possíveis de experienciar neste filme de Danny Cannon. O sonho que acompanha milhões de pessoas, concretiza-se para o jovem Santiago Munez, tornar-se jogador profissional de futebol. A emoção do estádio, do golo e do jogo são aqui tema central.

Crítica completa ao filme Golo (estreou a 29 de Outubro 2005)
Danny Cannon - IMDB


P&R ao realizador Danny Cannon, em BRUTO

Gosta de futebol? Quais são as características principais do jogo, na sua opinião?
Sim, gosto muito. É um jogo muito mais energético e mais apaixonante do que, por exemplo, ver um filme. Por isso penso que tentámos capturar essa paixão e determinação em película. Jogo futebol todos os domingos, é algo que adoro fazer. Jogo numa pequena Liga, aqui em Los Angeles.

O futebol está a tornar-se mais popular nos EUA?
Muito popular, de dia para dia nota-se cada vez mais isso, um maior interesse norte-americano neste desporto.

Como inglês e um fã de futebol porque escolheu este projecto, o Golo? Queria mostrar a paixão do futebol?
Foi exactamente isso, pensei poder mostrar a paixão do futebol. Porque não tinha existido, até agora, um bom filme que demonstrasse essa paixão futebolística. Queria apenas ser positivo em relação ao jogo e também esta é uma boa altura para mostrar que toda esta paixão e determinação pode compensar. Penso que falta às pessoas, actualmente, inspiração. Vamos a um jogo de futebol e as coisas correm bem à nossa equipa, esse tipo de inspiração e emoção apenas pensei que isso também deve estar representado no cinema e não deve estar só no campo de futebol.

Foi convidado para este projecto?
O projecto esteve previsto ser feito por outra pessoa [
Michael Winterbottom], mas não conseguiram dar início ao argumento e as coisas acabaram por não correr bem. Depois conheci um dos produtores em Los Angeles – estava a realizar o CSI na altura –, e mesmo sem ler a ideia do filme, disse-lhe, que se ia fazer um filme sobre futebol, para incluir alguns tópicos que eu gostava. A segunda parte disto foi que queria trabalhar com o Dick Clemmens, e o conjunto de argumentistas, um deles era de Newcastle, quando lhes disse isso juntámo-nos todos e os três fizémos um guião com o qual toda a gente se identificou. E penso que tudo o que eu queria no filme, ficou lá.

Quais eram os tópicos que falou à pouco que gostaria de ver no filme.
São duas coisas essenciais. A emoção de ir ao jogo em si, não interessa que fique mais velho, a emoção permanece a mesma e só o facto de se olhar à volta para a multidão nos Estádios, há tantas diferentes pessoas, miúdos, idosos, rapazes com as namoradas, de todas as classes, que partilham esta paixão. E pensei que o público deste filme não deveria apreciar apenas uma parte específica do jogo, devia experienciar todas estas coisas. Devia ser um filme em formato de viagem, era isso que eu queria. Porque viajamos por tantas emoções, tantos tipos de pessoa e mesmo assim estamos interessados no filme. E outra das coisas que queria captar tem a ver com uma experiência que tive recentemente. Joguei num grande estádio e só a antecipação de estar no balneário e sair pelo túnel para o relvado foi um grande momento da minha vida, e, por isso, queria transmitir essa sensação neste filme.

No filme conseguimos ver essa emoção, quando Santiago entra pela primeira vez como jogador no estádio do Newcastle e olha a multidão à volta com estupefacção e ansiedade…
Sim, exactamente. Não creio que tivesse conseguido fazer isso, se não quisesse, eu próprio, de estar a viver aquilo. Dizia muitas vezes ao Kuno [Becker], que ele estava a viver o meu sonho e se eu estava a exigir muito dele, para ele me dizer. Como disse, a primeira fez que entrei como jogador num grande estádio, foi um dos melhores dias da minha vida.

Qual é o seu clube?
O Arsenal.

O futebol foi abordado de forma concreta em muitos poucos filmes, em contraste com os desportos considerados mais americanos. O futebol é um bom desporto para o grande ecrã?
Não posso falar por Portugal, Itália ou França, mas posso falar por Inglaterra. Os americanos sempre incluíram paixão e competição no cinema. Por isso eles podem fazer de tudo cinemático se sentem alguma coisa em relação a isso. E penso que em Inglaterra resistimos à vontade de fazer de tudo cinemático, e acho que é uma pena. É por isso que na Grã Bretanha somos muito criteriosos sobre o que colocamos nos filmes. Ainda fazemos muito parte do ‘mundo artístico’, teatro, ópera… e na América utiliza-se um pouco de tudo, não se coloca limites para aquilo que se retrata no cinema. E, neste sentido, não me considero britânico, sou do mundo e podemos viajar pelo mundo.

Na Europa, assim como na América do sul e de uma forma crescente em África e na Ásia é normal os jovens sonharem tornarem-se jogadores de futebol de sucesso. Acredita este filme consegue mostrar que esses desejos e ambições se podem tornar realidade?
Sim, espero que sim. Também é sobre nunca desistir. O que é difícil de se fazer, e torna-se cada vez mais difícil. O Santiago, a personagem principal, é alguém que não desiste, embora todos lhe digam isso, e essa é uma boa mensagem neste momento. É um bom ‘lugar’ para se estar agora, penso que nos sentimos um pouco impotentes, no mundo nos dias de hoje, como se não contássemos. Porque embora façamos protestos quando não gostamos como as coisas decorrem elas, mesmo assim, continuam dessa forma. Por isso é muito bom podermos ter uma história verdadeiramente honesta e despretensiosa em que podemos ter poder sobre nós mesmos.

E também ser bem sucedido?
Sim, resulta porque o jovem acredita nele próprio.

Como foi filmar as cenas do jogo em si?
Uma das coisas mais difíceis que alguma vez fiz foi tentar capturar as emoções do futebol a partir dos actores, porque temos de fazer as coisas em fases diferentes. Primeiro filmamos os jogos a série e depois pedir a actores, que não são jogadores profissionais e imitarem o que se passa numa equipa de futebol. Isso é como pedir a uma pessoa ao acaso que entre num ringue de boxe e que pareça ser tão bom como o campeão do mundo de boxe. Por isso é preciso te muito cuidado, com a forma como se filma as cenas de futebol. Mas a pior parte disso é que, embora consigamos ter filmado as cenas bem e ter imitado alguns momentos bons, o jogo é muito rápido e não o queremos abrandar, por isso acabamos por cobrir uma área muito larga de espaço de jogo e de pessoas e tentamos manter esse espaço e essa velocidade. E é muito difícil de manter isso no enquadramento, é como tentar capturar em imagem um relâmpago. É muito complicado copiar a velocidade de um jogo de futebol, toma muita paciência e tempo, mas o pior é que estivemos a filmar com tempo muito mau e estávamos a pedir a pedir a estes jogadores não só que fossem muito talentosos e com técnica, mas também que repetissem inúmeras vezes todo o dia os movimentos. Por isso também foi duro para mim ser o vilão todo o dia. O ‘taskmaster’, o ‘condutor de escravos’, todo o dia, manter a energia em cima e pedir mais velocidade e pedir repetições. Não era o tipo mais popular nesses dias [risos].

Mas acha que conseguiu fazer com que as cenas de futebol parecessem verosímeis e resultassem?
Acho que integrámos os nossos actores com bastante precisão em situações verdadeiras, em jogos verdadeiros e entre os jogadores verdadeiros. Desafio seja quem for a descobrir as junções.


Kuno Becker é um jovem actor mexicano. Gostou do jogador em que ele se tornou?
Ele não era um bom jogador de futebol, apesar de jogar e no filme parecer ser. O que eu vi no Kuno foi alguém que qualquer pessoa pode gostar, despretensioso, acessível e consegui ver-me a chegar a ele, como uma pessoa verdadeira. Ele perdeu-se no papel com tanta dedicação e paixão pela personagem. Eu parti com o pressuposto, relativamente à personagem, que pode-se sempre aprender a jogar melhor futebol mas não se pode aprender a representar melhor e o Kuno é muito talentoso como actor e honesto.

Então, apesar de ser pouco conhecido, foi perfeito para a personagem?
Sim, sem dúvida. Tem a idade certa e a força física. E também é um rapaz simpático com quem se tem uma boa relação facilmente e alguns dos treinos e algumas cenas do filme teriam destruído alguém que não estivesse a ser honesto. Mas ele deixou-se ‘imergir’ na personagem. Ninguém vai ver um filme deste tipo se não gostar do tipo e acho que ele é um grande talento.

Filmar com estrelas do futebol como Zidane, Beckham, Raul e Shearer trouxe complicações?
A agenda deles é muito complicada. Temos de ter alguém destacado só para marcar as gravações com eles, e temos de ser muito precisos com o tempo e não o desperdiçar porque é tempo precioso que se tem com eles. Tenho pena de não ter tido mais tempo, para parar um pouco e falar com eles e conhecê-los. Mas tive de ser tão rápido para ter o trabalho feito.

Existem vários jogadores profissionais a jogar no filme, em conjunto com os actores. Qual as maiores diferenças entre uns e outros nas filmagens?
É engraçado que os jogadores profissionais e os actores não são muito diferentes uns dos outros. Ambos são pessoas muito privilegiadas que tem de actuar para nós num período curto de tempo. E sempre que aparecem em qualquer lado eclipsam todos os outros [risos]. E os actores e os futebolistas dão-se muito bem uns com os outros. Respeito cada vez mais os jogadores profissionais de futebol sempre que os vejo ao perto, porque eles estão a milhas e milhas de distância de nós, no seu talento desportivo.

Recorda-se de alguma ocorrência peculiar durante as filmagens?
Apenas do muito mau tempo e o calendário muito apertado e complicado. Porque as nossas cenas principais estavam dependentes não só do tempo mas também do calendário da FA [Liga inglesa de futebol] e da FIFA [Federação Internacional de Futebol] e foi um filme muito difícil de filmar.

Concorda que este filme não é apenas para os adeptos do futebol?
Claro, isso era fundamental para mim. Se fosse só para os adeptos do futebol então ninguém se ia interessar. É feito para as pessoas do mundo que querem sentir a paixão, neste caso ligada a um desporto. Acho engraçado que as mulheres parecem interessar-se muito pelo filme, mais do que seria de esperar. Outra das coisas que reparei é que, especialmente na América do Norte, as pessoas percebem agora mais o jogo, depois de verem o futebol. Pessoas que nunca ligaram ao futebol nem sentem essa paixão, vêem o filme e percebem o que é que as pessoas que gostam do jogo sentem. Por isso, penso que é um bom filme para levar a mulher, namorada ou a mãe, porque elas podem perceber o sentimento pelo jogo.

Gostava de filmar mais um filme desta trilogia [visto que o segundo filme será realizador pelo espanhol Jaume Collet-Serra]?
Vou considerar fazer o terceiro filme e espero que me convidem para o fazer, mas para o segundo filme não dava, porque o primeiro foi tão difícil e era necessário terminá-lo com cuidado e tempo. Senão não teria havido os outros dois filmes. Precisei de ficar na montagem, com calma, a terminar o filme com precisão, enquanto outra pessoa preparava o segundo filme.


Carreira

Começou a fazer filmes em Londres muito cedo. Como veio parar à 7ª arte?
O meu pai trabalhava nos adereços no negócio há 30 anos e eu cresci rodeado de cenários de cinema. Quando as câmaras de filmar se tornaram disponíveis, a partir do momento em que consegui comprar uma, comecei a fazer filmes. Fui um actor, durante algum tempo, numa companhia de teatro, e tinha um pânico do palco muito grande e, por isso, comecei a filmar os espectáculos em vez de actuar, e foi assim que começou... Nunca mais parou.

Que significado tem o cinema na sua vida?
Mantém-me muito ocupado. O maior prazer que eu tiro dos filmes é a música. Eu adoro música e tiro as minhas ideias e inspirações da música. Por isso, ouvir música é de onde eu tiro mais prazer a fazer um filme, e me faz esquecer o trabalho árduo que é fazer um filme.

Já dirigiu algumas estrelas de Hollywood, com Stallone, entre outras. São profissionais mais difíceis com quem trabalhar, relativamente a outros actores?
Não encontrei grande diferença. Ninguém é difícil se um actor e realizador idealizam o mesmo filme e ambos acham que aquele filme merece um trabalho árduo acho que é sempre fácil comunicar porque querem a mesma coisa. Torna-se difícil quando actores e realizadores não têm os mesmos objectivos. Eu simplesmente adoro actores, assim como gosto de jogadores profissionais, são pessoas especiais.

Tem experiência na indústria cinematográfica inglesa e norte-americana. Quais são as principais diferenças para um realizador? Será que a indústria inglesa aposta mais no conteúdo artístico e a americana o entretenimento?
Penso que é tudo a mesma coisa, tudo depende do tipo do filme. Se bem que na América eles querem sempre o maior público que puderem. Muitas vezes em Inglaterra filma-se mais orientado para o prestígio. Outras vezes também querem uma coisa grande também. Por isso acho que se conseguirmos estar entre os dois tipos de filmes, estamos bem, normalmente é aí que a maior parte dos realizadores gosta de estar. Acredito que a maior das pessoas é mais entretida se consideram que estão a ver uma coisa pensada, competente e cheia de significado. Penso que essas três coisas são artísticas, quando desligam as luzes e sentem que estão em boas mãos e é com isso que o público é mais feliz.

Os actores e realizadores ingleses continuam a ir trabalhar para os Estados Unidos em grande volume. Quais são os principais atractivos para a mudança?
Penso que existe apenas mais oportunidades e mais trabalho e isso é importante, tão simples quanto isso.

E quais os principais problemas de estar nos EUA?
A competição, que é muito forte e feroz.

Quais os seus projectos actuais e futuros?
Neste momento estou a escrever e produzir a série CSI, o que me dá bastante prazer por ser uma série que exige muita investigação. Além disso, estou a preparar um guião para o Jerry Bruckheimer. É uma história de amor com alguma acção, é uma história de amor à Jerry Bruckheimer.


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