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sexta-feira, março 03, 2006

Good Night and Good Luck 



O Poder do Jornalismo
Boa noite, e Boa sorte. Anos 50. Estados Unidos. A “caça” aos comunistas do senador McCarthy disseminou o medo pelo país. George Clooney conta a história de um programa televisivo da CBS que lutou contra esse “medo” instalado, utilizando o jornalismo. Com seis nomeações para os Óscares, conheça este mundo, a preto e branco.

João Tomé

Boa noite, e Boa sorte. Esta é a forma pessoal e sincera com que o pivot Ed Murrow se despedia dos espectadores do seu programa mais carismático na CBS, See it Now. Todo o ambiente criado por este filme, de George Clooney, permite “respirar” os anos 50. Melhor do que isso, permite, de uma forma sincera, rigorosa e interessada, acreditar nos valores fundamentais do jornalismo e na forma como podem mudar a sociedade. A realização de George Clooney é totalmente imbuída no espírito de investigação, a que a história do filme se refere. Estamos longe da imagem de Clooney: o médico, na série Serviço de Urgência, ou de Batman, em Batman & Robin. Nos Óscares deste ano, que se decidem este domingo, Clooney vê confirmado o seu talento como realizador e actor de filmes com mensagem “delicada”. Está nomeado para melhor actor secundário, por Syriana e nomeado para melhor realizador e argumentista por este filme, também político. «O meu objectivo não é atacar nenhuma administração. É apenas suscitar o debate», explicou Clooney à BBC. O actor, que está a preparar The Good German, sobre o pós II Guerra Mundial e um filme sobre as «hipocrisias» da indústria automóvel, afirma «estar numa maré política, por isso há-que continuar».



Primórdios da tv
O filme, tendo como pano de fundo os primórdios do jornalismo televisivo, retrata o conflito verídico entre Edward R. Murrow (David Strathairn), um pivot pioneiro e o Senator Joseph McCarthy que utilizou o poder de uma comissão para perseguir os comunistas no país, na chamada “caça às bruxas”. Graças à sua vontade de comunicar os factos e esclarecer o público, o inovador Murrow, e a sua dedicada equipa – dirigida pelo seu produtor Friendly (Clooney) – desafiam pressões da empresa e dos patrocinadores para apontar as mentiras e as tácticas rasteiras perpetradas por McCarthy. Clooney aparece no filme como o produtor Fred Friendly, que monta o programa em conjunto com Murrow, mas rejeita sempre o protagonismo, o que é favorável ao filme, e cumpre como secundário de respeito.




Preto & Branco
O facto do filme ser integralmente a preto e branco pode assustar quem não gosta do estilo, de qualquer forma acaba por ser um trunfo já que justifica-se e passados alguns minutos já não nos apercebemos do preto e branco, já que era assim a televisão no tempo retratado e isto é um filme sobre essa mesma televisão. Existe, assim, uma significância na falta de cor, que transmite também um maior encanto às personagens.

David Strathairn
Já a interpretação de Strathairn é fabulosa. Consegue encarnar com aparente facilidade um comunicador nato, que fala para a câmara com grande sinceridade e profissionalismo. Nos anos 50, em que se passa esta história, o jornalismo tinha os mesmos princípios que são ensinados nas escolas de jornalismo actualmente. Neste programa de televisão, ao contrário do que acontece em muito do jornalismo feito hoje em dia, esses princípios eram seguidos com grande preocupação. A maior diferença da época em que se passa o filme, para os dias de hoje, é no modo de se fazer televisão e jornalismo televisivo. Murrow falava sentado numa secretária, com a câmara muito próxima, e com um ambiente de redacção à volta. Criava-se uma atmosfera muito familiar. Tinha como característica fumar e falar descontraidamente, mas de forma muito rigorosa, para os espectadores. Foi essa génese que Strathairn conseguiu captar com facilidade.

O fantasma de McCarthy
McCarthy nunca é personagem, já que não é interpretado por ninguém, aparece nas imagens de arquivo, mas sente-se a presença e o medo que ele cria. Aliás, um dos assuntos do filme é mesmo o medo. O medo criado pela “caça” aos comunistas liderada pelo senador Júnior Joseph McCarthy, presidente do Senado das Actividades Anti-Americanas. No fundo, o medo que se sentiu na altura relacionado com as suspeitas de comunismo, não é muito diferente do medo sentido hoje com o terrorismo. Existe essa analogia possível que parece estar implícita no filme de Clooney – que também escreveu o argumento.

Semelhanças com O Informador
Falar desta história, que é agora conhecida no cinema pela mão do cada vez mais político (no cinema), George Clooney, é recordar também outras histórias que souberam colocar no cinema o jornalismo de investigação contra os interesses instalados, como foi o caso do filme O Informador (de Michael Mann, em 1999), em que um produtor da CBS (Al Pacino), do programa, 60 minutes, procura expor os malefícios do tabaco que as tabaqueiras esconderam de modos ilícitos. Tudo isto ao convencer um ex-funcionário a dar uma entrevista polémica, um papel que valeu a Russell Crowe o Óscar de melhor actor – quando ele era ainda pouco conhecido em Hollywood.

Aqui parece estar em discussão o papel do jornalismo na sociedade. E que bom que é o jornalismo apresentado de Murrow. As semelhanças com o filme O Informador são claras, mas existe aqui um carácter mais puro. Para o leitor que chegou até aqui, em especial, Good night, and good luck.



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Classif: 4,5/5
Realização: George Clooney
Com: David Strathairn, Patricia Clarkson, George Clooney, Jeff Daniels, Robert Downey Jr, Frank Langella
Site oficial:
Good Night, And Good Luck
Género: Drama/Histórico
Distribuição: New Lineo
EUA/R.Unido, 2005
93 min

Ficha IMDb


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