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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Sentimentos pessoais 

Uma história de gays para audiências heterossexuais
Quando o realizador Ang Lee se interessou pelo guião de O Segredo de Brokeback Mountain, nunca esperou que o seu pequeno filme sobre a poderosa história de amor entre dois cowboys americanos ultrapassasse o radar da comunidade gay e se transformasse num dos filmes mais aclamados pelo público e crítica. "Até hoje estou surpreendido com a forma como as pessoas em todo o lado conseguem ter a sensibilidade para compreender a complexidade do tema do filme, a probabilidade do amor, a ilusão do amor...", comentava ontem, depois da sua obra ter recolhido o maior número de nomeações para os Óscares.
Mas, ao contrário de todas as expectativas, esta história de amor tem apelado mais ao público heterossexual do que à comunidade gay, que até agora não demonstrou qualquer interesse em fazer do filme uma bandeira para as suas causas. A argumentista Diana Ossana considera que a força do filme reside precisamente em não ser uma obra de promoção dos direitos dos homossexuais: "Acho que nunca houve um filme que tivesse abraçado e apresentado um romance gay desta maneira. Porque este filme é muito mais do que uma história de amor entre dois homens. Reduzi-lo a isso seria como reduzir os grandes westerns a simples filmes sobre os homens que matam os índios ou tratam do gado."
A caracterização do filme tem vindo a evoluir tal como as suas plateias. No início, foi exaustivamente publicitado como um filme de amor homossexual. Mas quando a crítica alargou a interpretação temática da mais simplista apreciação do romance dos dois cowboys para as mais complexas tensões pessoais e sociais em jogo, disparou nas preferências dos espectadores e alcançou a chamada mainstream América. "Não fizemos o filme a pensar em nenhum movimento político de qualquer espécie. E certamente nunca esperamos mudar as opiniões das pessoas. Mas se por assistirem ao filme e compreenderem a história, começarem a mudar as suas opiniões e alterar as suas percepções, só podemos ficar satisfeitos", disse o actor principal, Heath Ledger.
Num extenso artigo, o USA Today reflectia sobre o fenómeno do filme que, "contra todas as probabilidades, elevou um western sobre dois homossexuais ao estatuto de Zeitgeist cultural do ano". A sofrida declaração "I wish I knew how to quit you", que se tornou quase a assinatura do filme, arrisca-se a entrar para a história das citações inesquecíveis do cinema, ao lado das recentes "show me the money" ou "life is like a box of chocolates".
O jornal argumentava que a vasta aceitação que o filme tem estado a receber tornou de repente admissíveis as anedotas sobre a homossexualidade. E atirava com os exemplos dos programas de comédia "late night" da tv americana, que têm encontrado em O Segredo... uma fonte inesgotável de piadas politicamente incorrectas.
Como explicava o actor e escritor gay Bruce Vilanch ao USA Today, "quando uma história de amor homossexual é aceite pela cultura mainstream, e ainda por cima as personagens são dois cowboys, as possibilidades de gozar com os estereótipos tornam-se infindáveis. Na verdade, que outros grandes ícones americanos existem para além de cowboys e gays?", questionava.
R.S, Washington (PÚBLICO) - in Cinecartaz

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