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quinta-feira, outubro 06, 2005

Alice 



A dor da ausência
Uma Lisboa sombria sob os olhos de um pai ferido na alma pela ausência da filha é a história que alimenta a primeira longa-metragem de Marco Martins e que parece ser um início auspicioso para o jovem realizador. Nuno Lopes e Beatriz Batarda são os actores que protagonizam intensamente um dos melhores filmes portugueses.


João Tomé

O silêncio e a ausência de diálogo marcam a primeira meia-hora do filme. Mas engane-se quem pense que, por isto, se irá assistir a um típico filme português. Alice é uma longa-metragem diferente daquilo a que nos habituámos a ver no cinema português.
Não é o típico filme português de autor, com imagens monótonas ou demasiado paradas, nem o filme a tentar aproximar-se dos blockbusters norte-americanos.
Então, como se define Alice? Um filme bem realizado e com uma história tocante que prende o espectador, sem nunca se tornar melodramático ou monótono.
«Tenho fé absoluta no poder das imagens para contar uma história», disse recentemente o realizador. E é uma Lisboa sombria e ameaçadora que somos convidados a ver, tudo com o objectivo de sentir a mágoa de Mário (Nuno Lopes), um pai que não vê a filha, Alice, de 4 anos, há 193 dias. A brutalidade do amanhecer, para este pai já habituado à dor diária, leva-o a repetir o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu.
O actor Nuno Lopes – mais conhecido por papéis cómicos na televisão (Herman SIC), novelas e teatro) – está quase bem diferente. Emagreceu, deixou crescer a barba e tem também a sua estreia como protagonista no cinema, intensa e muito promissora. Acompanhamos assim, a personagem de Mário, numa Lisboa azul-cinzenta, muito diferente da cidade luminosa de outros filmes, na sua busca incessante pela filha.
A obsessão leva-o a colocar câmaras de vigilância, na esperança de reconhecer uma cara na multidão anónima, ver uma pista, um sinal… Entre pequenos momentos de esperança em que Mário conhece outras personagens, também elas sozinhas e isoladas da cidade onde vivem – como é o caso de Luisa (Beatriz Batarda) – e o desespero, uma coisa parece comum a esta história de ausências, a cidade é aqui um local de abstracção, onde se pode viver profundamente isolado. «Interessava-me na história de Alice explorar sobretudo a obsessão.
Alguém que perde uma filha e que, sentindo-se impotente para agir, cria um sistema paralelo de funcionamento, exterior à sociedade em que vive», explicou Marco Martins, 32 anos, na nota de intenções do filme.
Nota-se neste filme distinguido em Cannes com o prémio Jeunes Regards, e muito elogiado pela crítica internacional (estreou a semana passada em França), semelhanças com o célebre Paris, Texas, de Wim Wenders e essa foi mesmo uma das inspirações de protagonista e realizador. Já a história foi inspirada no caso real e mediatizado de Filomena. Uma mãe que busca o filho (Rui Pedro), desaparecido há sete anos, a quem o realizador dedica o filme. Destaque ainda para a ausência de figurantes nas filmagens, muito graças às pessoas do meio urbano terem ignorado a câmara - uma situação que aconteceu, de facto, e que acaba por ser retratada no filme.


Crítica estrangeira
Um poderoso estudo sobre a dor intensa representada na penetrante e segura primeira obra de Marco Martins, Alice está mergulhada num desespero tão profundo quanto eloquente.
VARIETY (EUA)

Impressionante. Alice tem um resultado exemplar, um retrato de Lisboa como nunca a vimos filmada.
LIBÉRATION (França)

Uma crítica à sociedade urbana contemporânea. Brutal e violento,esporadicamente iluminado por momentos de humanidade.
LE MONDE (França)

Nuno Lopes encarna de forma brilhante um homem obsessivo, sozinho na multidão...
Um filme triste e belo que nos agarra até à compaixão.
CINELIVE (França)
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Marco Martins cineasta
"O meu filme é sobre a importância da esperança"
Estreia-se hoje 'Alice', primeira longa metragem de Marco Martins, sobre um casal cuja filha pequena desaparece. Um drama em que Lisboa também é personagem - mais in DN

Nuno Lopes o rosto de um pai como metáfora para a solidão
por Rui Pedro Vieira
A criança que nunca se vê, e que desapareceu num dia como os outros sem o espectador conhecer os pormenores, é a personagem principal de Alice e tudo gira em torno das suas referências, hábitos e imagens. Apesar disso, da primeira à última cena desta primeira obra de Marco Martins, quem aparece no ecrã e se expõe é o seu contido pai, ou melhor, o actor Nuno Lopes que, pela primeira vez, consegue o protagonismo no cinema. - mais in DN

Wim Wenders escolheu-o para os seus filmes
Marco Martins, realizador, 33 anos
- Completou o Conservatório antes de frequentar vários "workshops" de escrita de guião e direcção de actores, nos EUA.

- Foi assistente de produção e de realização em filmes de Wim Wenders, João Canijo e Manoel de Oliveira, entre outros, e, paralelamente, assinou quatro curtas-metragens.

- Formou a produtora de publicidade Ministério dos Filmes e, apesar do sucesso crítico de "Alice", não tenciona abandonar a actividade por considerar serem dois mundos de imagens que se complementam.


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