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sexta-feira, maio 13, 2005

Uma Canção de Amor 


História simples e apaixonante
No meio de uma New Orleans pacata e de uma pasmaceira completa surge-nos uma história fascinante pelo olhar da realizadora em ascensão Shainee Gabel, que conta com um John Travolta velho e rabugento e uma Scarlett Johansson rapariga do campo mas com o brilho encantador.
Classificação: 4.0

João Tomé

Entre disputas, amizades e descobertas somos atraídos para um enredo simples mas com enorme profundidade moral e emocional. John Travolta aparece transformado e num papel diferente do habitual. Não é mais o sex-symbol com muito glamour – como aconteceu no recente filme Be Cool – mas encarna Bobby Long. Um velho de cabelo totalmente branco, rabugento que vive no maior despojamento material, sem qualquer preocupação estética, embrulhado nos seus antigos livros, nas suas memórias e nos seus autores literários preferidos.
Com o título original de A Love Song for Bobby Long, o espectador cresce à medida que as três personagens principais crescem umas com as outras, se conhecem e desconfiam menos umas das outras. É um filme que vai cativando em crescendo, tornando-se cada vez mais interessante, intenso e apaixonante. Baseado no romance de Ronald Capps, conta-nos a história de dois homens que se sentem acabados, e de uma jovem que procura mudar a sua vida.

Pursy, 18 anos, (Scarlett Johansson) regressa, depois de muitos a anos de ausência à sua terra natal, após a morte da mãe. Para trás deixa um emprego e um namorado no mínimo pouco adequados. Pursy não consegue chegar a tempo do funeral e quando julga que pode ficar em casa da mãe e viver, dois homens já habitam nela há alguns anos – amigos da mãe. Bobby (Travolta) e Lawson (Gabriel Macht, um actor subtil mas interessante e eficaz) conhecem Pursy de quando ela era uma criança, mas Bobby revela-se desde logo hostil para com a jovem, com receio de ser expulso da casa. Os três vão viver debaixo do mesmo tecto contra as suas vontades mas oferecendo ao espectador uma espécie de irmandade invulgar e apetecível.

Mas à medida que surgem as primeiras discussões começam também a existir as primeiras cumplicidades e a amizade toma conta da hostilidade inicial. Bobby é um ex-professor alcoólico acabado, angustiado e com traumas, enquanto Lawson é um seu ex-aluno também com traumas - alguns deles em comum com Bobby - e que há já nove anos tenta escrever um livro sobre o velho professor.
Pursy vai descobrir mais sobre a vida intensa e que apaixonava todos à sua volta da mãe com a ajuda de Bobby e Lawson. Uma ajuda algo reticente mas muito eficaz que vai desencadear algumas surpresas um pouco previsíveis mas bem conseguidas para o final do filme. No meio da pasmaceira a música típica de New Orleans, os cigarros e o álcool são elementos constantes nas personagens, que se entretêm com o que existe por perto e com a experiência acumulada dos velhos livros da mãe de Pursy e do professor de inglês resmungão.

Os dois homens muito literados e cujo passatempo é citarem autores como Dylan Thomas, T.S. Elioth, George Sand, entre outros (Bobby também canta músicas country frequentemente), têm em comum alguns traumas do passado e procuram, juntos vão influenciar Pursy a terminar o liceu, enquanto a jovem vai mudar as suas vidas incutindo-lhes esperança e vontade de viver. Neste encontro entre duas gerações de sex-symbols – Travolta e Johansson –, os pormenores dão brilho à localidade pacífica.
O morder dos lábios de Scarlett, a relação gradual e apaixonante dos três que representam gerações diferentes, as danças (bem longe de Saturday Night Fever) entre Travolta e Johansson, os vestidos de Scarlett são os pedaços de filme que mais apaixonam. Sem esquecer que as relações humanas são tão complexas quanto interessantes, mesmo nos locais mais inóspitos para se viver. É uma história tão simples quanto fascinante.


Pursy.




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