quarta-feira, maio 04, 2005
Joseph Cotten, um herói discreto e sombrio
Rui Pedro Vieira, in DN
Estreou-se frente às câmaras aos 36 anos, depois de um passado como jornalista e crítico de teatro. A sua entrada no cinema foi logo no mais importante filme de todos os tempos, Citizen Kane - O Mundo a Seus Pés (1941), a obra-prima de Orson Welles que reflectia sobre as potencialidades de ascensão e queda social no universo dos media. O filme em que vestia a pele de Jedediah Leland foi o escolhido pela Cinemateca de Lisboa para comemorar o centenário do seu nascimento - a 15 de Maio de 1905 -, com exibição agendada para hoje, às 19.00.
Nunca pertenceu à primeira linha de galãs do cinema clássico, mas tornou-se um dos mais respeitáveis pelos papéis de homem amargurado, de cigarro nos lábios e olhar semicerrado. Sendo o principal crítico de si próprio, chegou a admitir que nunca levou o cinema muito a sério "Sou alto. Consigo falar e isso torna as coisas fáceis".
O ciclo prossegue amanhã, também às 19.00, com o drama negro Mentira (1943), a obra de Alfred Hitchcock em que interpreta um homem misterioso que regressa a casa do seu irmão e deixa no ar as suspeitas de ser "o misterioso assassino das viúvas". A relação com a sua sobrinha deixa antever o pior. Cotten desfaz-se em ambiguidade e o próprio Hitchcock reconheceu que este era, de toda a sua carreira, o seu filme preferido.
O Terceiro Homem (1949), nova colaboração de Cotten com Welles (amigo de quem duvidava "que alguma vez tivesse tido infância"), mas desta vez sob a direcção de Carol Reed, é outro clássico noir passado numa teia de enganos do pós--guerra. A Cinemateca recorda-o sábado, às 19.00. Segue-se, à mesma hora, na segunda, O Quarto Mandamento (1942), melodrama romântico de Welles em que Cotten é um homem apaixonado pela mesma mulher durante toda a vida, mas o filho dela impede a concretização da relação.
O ciclo continua com os dramas de guerra Com Todo o Meu Coração (1944), na terça, e Desde Que Tu Partiste (1944), quarta, sempre às 19.00.
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