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quinta-feira, fevereiro 10, 2005

O que Kinsey tem a ver com Garganta Funda? 


De "Kinsey" a "Garganta Funda", Duas Revoluções Sexuais por Filme
América, finais da década de 40: Alfred C. Kinsey, então um quase desconhecido entomólogo da Universidade de Indiana, descobre o sexo e avança uma provocadora teoria sobre o mesmo - o desejo sexual não se limita a funções reprodutivas. Mais: defende que a bissexualidade é natural. Há-de ser o seu projecto de vida, (quase) sempre um nome da ciência: investigar o comportamento sexual dos americanos.

Na América do pós-guerra, uma figura como Kinsey era um papão, levantando o lençol das camas e do puritanismo americanos. Na América de hoje, também: grupos de cristãos conservadores vieram recentemente apelar ao boicote do filme biográfico "Relatório Kinsey", que encerra o 55º Festival de Berlim, fora de competição (e estreia em Portugal hoje), sob o pretexto de que é um filme apologético em relação a um homem responsável pela revolução sexual e um rol de consequências nefastas, dos elevados índices de divórcio à sida.

"Kinsey", de Bill Condon (realizador de "Deuses e Monstros"), tenta apanhar o homem e as suas contradições, entre o obstinado investigador científico e uma obsessão próxima de um cientista louco (o velho mito de Frankenstein), mas falha em dar à personagem (interpretada com eficácia por Liam Neeson, nomeado para um Óscar) a complexidade exigida. E, para um filme que se debruça sobre uma figura que desafiou convenções, "Kinsey" é demasiado convencional, quase uma mera acumulação de factos e episódios com chave freudiana (o trauma de uma infância assombrada por um pai austero).

América, início da década de 70: um filme sobre uma rapariga com o clitóris na garganta desperta uma febril corrida às salas de cinema. Produzido por 25 mil dólares, "Garganta Funda" foi o primeiro filme porno a atrair um público "mainstream", rendendo 600 milhões de dólares - ainda hoje, é um dos filmes mais rentáveis de sempre. Eternizou um ícone, Linda Lovelace, a protagonista, abriu caminho à indústria pornográfica, estilhaçou os hábitos sexuais (segundo se diz) e entrou no vocabulário cultural, ao ponto de servir de mote ao escândalo de Watergate, denunciado por um "garganta funda". É esse impacto cultural que Fenton Bailey e Randy Barbato propõem pôr a nu em "Inside Deep Throat", documentário que vai passar em Berlim (secção Panorama), e que inclui entrevistas com testemunhas do fenómeno, de intelectuais a figuras do porno - Larry Flint, Hugh Hefner, Norman Mailer, Camille Paglia, Gore Vidal. Por seu lado, "Inside Deep Throat" só estreia amanhã nos EUA, mas já teve o seu impacto: "Garganta Funda" vai voltar às salas de cinema americanas, coincidindo com a exibição do documentário.
in Público

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