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quinta-feira, setembro 09, 2004

Veneza e Nicole Kidman 


Nicole Kidman Apaixonada por Um Homem de 10 Anos
Por VASCO CÂMARA, em Veneza (Publico)
Quinta-feira, 09 de Setembro de 2004

Ele está dentro da banheira, nu, ela está sentada na borda. Ele diz "Amo-te". Uma sequência amorosa na casa-de-banho ("preliminar" a qualquer coisa que possa ainda vir?), tudo normal. A não ser o facto de ele ter 10 anos. E ela ser Nicole Kidman.

Esta era a cena de que se falava antes de "Birth", de Jonathan Glazer, chegar à competição de Veneza, onde os arautos do "escândalo" já tinham fabricado um acontecimento. Chegando a noticiar que havia cenas mais para o escabroso que tinham sido cortadas do filme. Qual escabroso qual quê, Nicole, mãe de família, nunca faria uma coisa dessas, como a actriz disse ontem em conferência de imprensa. "'Birth' não é um filme em que haja alguma tensão erótica, é um filme sobre o amor e sobre o luto".

Contexto: ela é viúva, e dez anos depois da morte do primeiro marido, quando se prepara para casar de novo, aparece um miúdo que se diz chamar Sean - que era o nome do primeiro homem de Anna (a personagem de Kidman), morto durante o jogging em Central Park.

Sean ama Anna. Anna tem ainda de amar Sean. Poderá Sean ser Sean?

O miúdo ultrapassa todos os testes de mentira, inclusive a prova de fogo que é a família de Anna, gente de Park Avenue, Nova Iorque (com uma mãe interpretada por Lauren Bacall). Sean tem que ser Sean, convence-se Anna - que está disposta a esperar que Sean cresca um pouco para poder satisfazer as suas "necessidades".

A partir daqui, "Birth" tinha dois caminhos a seguir: continuar pela via do paranormal, que é o clima que logo de início começa a adensar o filme (Sean, o Mr. Reencarnação, como lhe chama Bacall), ou... uma explicação da razão. Sem revelar aquela que o filme segue, o importante, para as coisas não se ficarem pela comédia involuntária, não é convencer o espectador do que é que se está a passar; é fazer o espectador acreditar de tal maneira em Anna, que passa também a acreditar contra todos os cepticismos - tal como David Cronenberg tentou que o espectador "visse" o mesmo que Jeremy Irons via em "M. Butterfly": que era uma mulher o homem que tinha à sua frente.

Voltando à cena de "Birth": casa de banho, rapaz nu na banheira, mulher na borda, "amo-te". Risos na sala, não, o cepticismo não foi vencido.
in Público

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